quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Aprendendo a reconhecer

Olhei ao mesmo tempo assustado e preocupado para o relógio em meu pulso. Os ponteiros mostravam que faltavam poucos minutos para as sete horas da noite. Com certeza, chegaria atrasado para aquela reunião com o Doutor Leonardo, phd em Letras. Formou-se através de umas das melhores universidades do país. Estaria hoje às sete da noite no palco da universidade para uma palestra emocionante. Era a minha oportunidade para aprender mais. Não podia perder, simplesmente não podia. Olhei novamente para o relógio, que agora marcavam cinco para as sete e para piorar, o ônibus que não vinha. Caminhava de um lado para o outro, como se dessa forma, fosse capaz de retardar a passagem do tempo.

Do lado oposto da calçada, dois velinhos caminhavam lentamente, e a minha pressa perdeu ali todo o sentido. Um casal de namorado, logo atrás, cortou caminho pela rua, visivelmente contrariados com aqueles dois "obstáculos" no caminho. Como eles, eu também tinha muita pressa, mas parei para pensar: "Quem se importa com dois velhinhos que caminham na calçada? Quem está interessado ou tem tempo para ouvir as suas histórias? Quem sequer os nota?"

Entre o casal de velhos e os jovens, a diferença imediata me pareceu ser que os primeiros sabiam que já foram e o casal de namorados acreditava que nunca iriam ser. Lentamente caminhavam com grande dificuldade e eu não saberia dizer se era a senhora que amparava o velho senhor, ou se era o senhor que amparava a velha senhora. Na verdade, me pareceu as duas coisas, como se um fosse o pilar do outro. E não era simplesmente um amparo de equilíbrio. Havia muito carinho em cada gesto. O braço segurando o outro, o olhar atento a cada movimento incerto; o cuidado meticuloso de quem tem nas mãos a sua maior preciosidade.

Nem a minha pressa me fez pegar aquele ônibus que finalmente apontou. Senti vontade de atravessar a rua e cumprimentá-los pelo exemplo. De ouvir as suas histórias, de saber dos sonhos que tiveram e os que ainda tinham esperança de ter. Senti vontade de perguntar como era possível tanto carinho, depois de tanto tempo juntos. Senti vontade de poder um dia ser como eles. E pensei que talvez, só talvez, existam coisas mais importantes. Naquele dia, eu havia perdido alguns minutos de conversa com o “Mestre das Letras”, mas ganhei um Livro inteiro de experiência, observando aqueles dois velhinhos...

Há beleza em toda parte em que olhamos, apenas devemos aprender a reconhecê-la. 

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