Sai do banho cabisbaixo, seca o corpo vagarosamente, ta entrando na academia agora, a atual aparência não lhe agrada mais. Veste-se, o jeans já gasto e a camiseta branca, sempre simples. Os pés descalços caminham até a cozinha, o café logo enche a cozinha com seu cheiro bom, ele sente o dia começando.
Abre a porta e pega a edição diária do jornal, folheia distraidamente lendo uma notícia aqui e outra ali, a violência o assusta, ele vive se perguntando quando foi que o ser humano esqueceu o que realmente é ser um humano. Ele faz o que pode, separa o lixo, raramente come fora de casa, evitando assim o uso das embalagens de plástico das lanchonetes, não fuma e não bebe, tenta levar uma vida saudável, sempre ajuda ONGs com doações e contribuições seja financeira ou serviçal, doa livros velhos para a biblioteca da cidade e todas as noites tem sua seção de ciberativismo assinando abaixo assinados em instituições como o Greenpeace e outros. Faz o máximo que pode para ter a consciência limpa e poder dizer que ainda se mantém humano, mesmo tendo vergonha alheia do resto da população que se encontra alienada assistindo a rede "plim-plim" e deixando de pensar por conta própria para apenas pensar como a mídia quer. Uma lástima.
Está solteiro, muita gente diz que ele é difícil, que mudou, está diferente e mais auto-suficiente e que isso dificulta as coisas, mas ele pensa diferente. Mudou sim, amadureceu. Antes acreditava em amores platônicos, em juras de amor eterno, contos de fadas e no "felizes para sempre". Agora ele é realista, tem os pés no chão e deixou de ser aquele menino fácil de antigamente. Ele sempre se pergunta se foi a idade que fez isso ou se ele sempre foi assim e não soube dizer. O amor é uma montanha russa misturada com um trem fantasma, altos e baixos, monstros e bruxas, fantasmas que somem e reaparecem para atormentar no futuro, curvas demoradas adiando o fim das coisas, subidas intermináveis aonde o nervosismo e a ansiedade tomam conta e os nervos entram em colapso, descidas libertadoras com direito a frio na barriga e tudo, o amor é assim.
No caso dele, no meio desses trilhos alguns parafusos soltaram e ele quase caiu do trem, por tempos tudo parou e o parque de diversões continuou sem ele, por vezes esperou que alguém viesse tirar ele daí, algumas pessoas apareceram, mas logo em seguida viraram assombrações e sumiram, agora ele simplesmente aprendeu a arrumar o seu caminho, sabe fazer a manutenção sozinho, mas é sempre bom ter alguém sentado ao lado, disso ele nunca duvidou.
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