quinta-feira, dezembro 29, 2011

Amigo é coisa séria

Eu não posso acabar com todos os seus problemas, dúvidas ou medos, mas eu posso ouvir você e juntos podemos procurar soluções. Eu não posso apagar as mágoas e as dores do seu passado nem posso decidir qual será o seu futuro, mas no presente eu posso estar com você se precisar de mim. Eu não posso impedir que você leve tombos, mas posso oferecer minha mão para você agarrar e levantar-se. Suas alegrias, triunfos, sucessos e felicidades não me pertencem, mas seus risos e sorrisos fazem parte dos meus maiores bens. Não é de minha alçada tomar decisões por você, nem posso julgar as decisões que você toma, mas eu posso apoiar, encorajar e ajudar se me pedir. Eu não posso traçar ou impor-lhe limites, mas posso apontar-lhe caminhos alternativos, procurar com você medidas de crescimento, formas de encontrar-se, meios de ser você mesmo sem medo da rejeição. Eu não posso salvar o seu coração de ser partido pela dor, pela mágoa, perda ou tristeza, mas estarei com você e ajudarei a juntar os pedaços. Eu não posso dizer quem você é ou como deveria ser, eu só posso amar você e ser seu amigo.

"Pequenas palavras para grandes sentimentos"

terça-feira, dezembro 27, 2011

Vírgula para pensar

Caminhando na vida, descobri uma vírgula, um sinal para dar uma pausa, pensar, mas logo em seguida continuar. Descobri que tenho saudades. Por toda vida sempre fui aquele menino que se apegava a seres, coisas, pessoas .. sempre fui de muitos amigos, amores e valores. Desde minhas professoras das séries iniciais aos melhores amigos que a vida me deu, sempre me apeguei a alguém. Se eu fechar os olhos, não seria capaz de contar nos dedos de dez mãos o tanto de pessoas que quero bem. Dez? Ainda é muito pouco. 

Caminhando pela vida, descobri que sou amado por tantos... e isso aquece meu coração. É como se alguém pudesse envolve-lo com um manto, aquecendo do frio, deixando em uma temperatura aconchegante, como colo de mãe. É tão bom olhar ao redor e ver trezentos e sessenta graus de sorrisos. Em cada ponto da volta que der, encontrar um alguém para abraçar. Ainda que olhando para baixo encontre, alguns, que preferiram esconder os risos e mostrar para mim, uma face mais séria ou até ríspida às vezes. Esses são os pormenores, aqueles a quem eu desvio o olhar, ignoro. Por mais que sejamos amados, nunca seremos totalmente, ou sempre iremos querer mais. 

Apesar de muito julgado, apontado, questionado, sei o que sou, como sou, porque sou e acima de tudo, sei o que pode me fazer feliz. A segurança de ser amado, trás consigo uma gama de convicções. Mesmo distante, mesmo ausente, mesmo faltando na hora que muitos precisaram, eu amo a muitos. 

Acho que nasci com o amor no peito, o dom de encantar pessoas e orgulho de fazer amigos. Não tenho problemas em dizer te amo, desde que o amor exista. Não concordo com a teoria de amar poucos, o amor nasce, não escolhe pesos ou volumes, tão pouco ocupa espaços ou conhece dimensões. Sei que minhas verdades podem não condizer com as alheias, mas prefiro conservá-las assim, bem minhas. 

Quanto às saudades, sei que matarei sempre, um pouco por vez. Quanto aos amores, carrego no peito e vez ou outra, faço operações matemáticas. Quanto às palavras, são só desabafos. Quanto a mim... sigo aqui, meio em sonho, meio em uma realidade desejada.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Não se é amigo sozinho

Quanto vale ser melhor que o outro? Insisto, responda-me essa pergunta, é algo que preciso me fazer entender. Analiso as relações entre as pessoas que me cercam e a maneira com a qual os que mesmos agem em grupo. Sempre há a necessidade de se sobrepor aos demais, sempre há a necessidade de superar, não a si, não pelo desejo de vencer barreiras, mas pela pura e exclusiva necessidade de dizer: sou melhor que você! 

Abomino isso. Não é através de ilusões que se constroem as relações, não deixarão de gostar de você por você não ser aquele ser perfeito que faz questão de exibir. Amigos são ótimos, mas quantos você já teve, e quantos você tem? No fim das contas é você e você mesmo. No travesseiro, é só você e sua consciência. Na chuva, é você e as gotas d’água... Em alguns momentos, o outro é completamente indispensável, somos seres sociáveis, necessitamos desse convívio, deste contato humano, mas ele precisa ser verdadeiro, não pode ser forçado. 

Ninguém luta por algo que não acredita, ninguém deseja uma amizade baseada em fatos irreais. Fazemos amigos, baseados muitas vezes em afinidades, no fim, os menos semelhantes são os que mais nos ajudam e estão de prontidão quando precisamos. A vida é assim, não se vive em função dos amigos. Amigos ajudam-se sem relações de parasitismo. Não se é amigo sozinho. Não existem monólogos em amores e amizades. Não existe meio termo em relação a gosto. 

Ainda que soe radicalismo e revolta, não condeno amizades, pelo contrário, amo os que tenho como amigos. Não sei se todos nutrem por mim o mesmo sentimento, mas não dá para amar na esperança de que seja amado, é necessário não exigir troca, espere menos e sofrerá na mesma proporção. Não busque aqueles que gostam tão somente das mesmas coisas que você. Não é necessário lutar pela igualdade, mas sim pelo respeito às diferenças.

domingo, dezembro 18, 2011

Corra para conseguir

Louco de amor, fome de paixão, sede de desejo e vida de fantasias. Louco, pequeno e louco. Cresci em tão pouco tempo e em menos ainda já tive desejos. Com medo acabei me tornando forte. Orgulho além da conta fez com que perdesse amores, futilidades tantas, paixões. Angustiado aprendi a lidar com os meus próprios sentimentos. Fui criando novos caminhos nessa minha trilha até o presente, cheguei. Estou aqui! Vida de amores, vida de paixões... como todo homem de ilusões. Sou dono de mim, mas meu coração me afronta. Me ganha aos poucos, me vence ao fim. Com ele me entrego e por ele assumo erros que não seriam meus, e sim dele. Só dele. Não me culpo e nem o culpo por agir sozinho e não me perguntar o que pode ou não fazer. Ele manda em mim, sou ele – sou dele. Sou de coração, paixão, sou emoção. Cansa, meu bem, quebrar a cara. Bater de frente com a emoção, com a paixão e ter de voltar atrás. "Ninguém entende" é a frase mais dita. Amores não são entendidos, são vividos. 

- APREEEEEEENDE! – digo à mim mesmo.

Quem dera poder dizer que aprendi. Se de fato essa frase adiantasse não haveria tantos corações quebrados, despedaçados e pisados. Não haveria amores mal acabados e sonhos largados ao vento. Deixados de lado. E mesmo com tantas decepções vividas e tantas vontades largadas, esquecidas não me acabo. Continuo vivendo e acreditando. Cansei. Minhas fantasias crescem a cada dia, minha vontade de ver os amores sendo mais vividos e não chorados ainda me vence. Mesmo quando vejo exemplos do contrário. Acredito. Não há mais em mim medos de me entregar a desejos e sentimentos. Vivo e tenho fome de realizar. Realizo. O que vive dentro de mim, ninguém mais entende.

- DEIXA ACONTECER – repito.

Não é assim, o que acontece só se concretiza por que alguém busca, corre atrás e não deixa simplesmente por conta do acaso – ou destino. Seremos mais sonhadores e menos realistas. Muitas vezes funciona. Amores bem resolvidos acontecem sim, vá em frente. Acredite. Caia e levante. Tudo tem sua hora, mas não pára, o tempo corre.

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Cuidado! Frágil!

Certos amores deveriam vir acompanhados de um manual de instruções, dentro de caixas lacradas e com a seguinte inscrição : "Cuidado, frágil!" ou "Danger!". Principalmente aqueles amores que nos causam dor. E acredite: A dor do coração é pior que qualquer outro tipo de dor. Porque para todas as dores o homem inventou remédios e as dores do coração, cardiologista nenhum consegue tratar. 

Desde pequenos nos acostumamos a crescer ouvindo de todos com uma certeza indubitável que o amor é a perfeição, é o céu na Terra. Os problemas começam quando colocamos os pés no céu e sentimos vontade de provar dessa perfeição. Descobrimos que a maior parte das coisas que nos disseram sobre o amor não passavam de invenções, de verdades criadas. Talvez por isso exista terapia de casal e conselhos amorosos. Nunca sabemos como agir quando nos decepcionamos com o amor. É como se nos tirassem o chão debaixo dos pés e nós caíssemos num abismo sem fim, no qual quanto mais se desce mais longe fica o chão. 

A dor do amor pode não ter cura, pode ser uma ferida que nunca cicatrize. Mas há como atenuar essa dor. O mesmo cara que criou o amor, criou também uma espécie de mertiolate para ele. Algumas vezes arde, outras não. Mas nos dá a certeza de que se melhora bem mais rápido. O criador desse poderoso artifício costuma chamá-lo de amizade, o amor que nunca morre. 

Por acreditarmos na perfeição e esperarmos sempre o melhor do amor, certos corações se tornam imunes à dor. Não por usarem os mertiolates das melhores marcas, mas por terem uma fé tão grande nesse tal amor, que cultivam dentro de si um coração com uma armadura de aço por fora mas completamente frágil por dentro. Corações desse tipo se toram resistentes á dor. Surgem aí os sintomas de uma cardiopatia conhecida como 'amor incondicional'. Sofre, sofre, sofre, sofre de novo e nunca se deixa de amar. Dorme-se e levanta-se pensando na mesma pessoa, tornamos-nos publicitários em ascendência: somos capazes de qualquer coisa pra chamar atenção de quem amamos. 

Os que sofrem desse mal, geralmente têm o coração maior que o peito. Chega um momento em que a armadura desses corações começa a ceder, de forma com que tudo o que há nele seja expelido até formar um coração vazio, com medo do amor e recluso a qualquer tentativa de aproximação ou demonstração de afeto. É o estado terminal da doença. As sequelas ficam, doem. E a nossa cabecinha, infelizmente não tem memória seletiva . Por isso ficamos lembrando constantemente da dor, de tudo o que passamos. E choramos tentando esquecer. 

Ainda acho que o pior erro de amar, é amar sem saber. E que junto com os mertiolates, dentro da caixa lacrada deveria vir um kit de uso obrigatório contendo as teclas "on/off" e "delete"; prontas para serem usadas automaticamente antes que a perfeição se desfaça. 

Não acredito em contos de fadas, mas espero por um final feliz. Enquanto ele não se aproxima eu coloco o amor em 'stand by'.

sábado, novembro 19, 2011

Realidade

Sai do banho cabisbaixo, seca o corpo vagarosamente, ta entrando na academia agora, a atual aparência não lhe agrada mais. Veste-se, o jeans já gasto e a camiseta branca, sempre simples. Os pés descalços caminham até a cozinha, o café logo enche a cozinha com seu cheiro bom, ele sente o dia começando. 

Abre a porta e pega a edição diária do jornal, folheia distraidamente lendo uma notícia aqui e outra ali, a violência o assusta, ele vive se perguntando quando foi que o ser humano esqueceu o que realmente é ser um humano. Ele faz o que pode, separa o lixo, raramente come fora de casa, evitando assim o uso das embalagens de plástico das lanchonetes, não fuma e não bebe, tenta levar uma vida saudável, sempre ajuda ONGs com doações e contribuições seja financeira ou serviçal, doa livros velhos para a biblioteca da cidade e todas as noites tem sua seção de ciberativismo assinando abaixo assinados em instituições como o Greenpeace e outros. Faz o máximo que pode para ter a consciência limpa e poder dizer que ainda se mantém humano, mesmo tendo vergonha alheia do resto da população que se encontra alienada assistindo a rede "plim-plim" e deixando de pensar por conta própria para apenas pensar como a mídia quer. Uma lástima.

Está solteiro, muita gente diz que ele é difícil, que mudou, está diferente e mais auto-suficiente e que isso dificulta as coisas, mas ele pensa diferente. Mudou sim, amadureceu. Antes acreditava em amores platônicos, em juras de amor eterno, contos de fadas e no "felizes para sempre". Agora ele é realista, tem os pés no chão e deixou de ser aquele menino fácil de antigamente. Ele sempre se pergunta se foi a idade que fez isso ou se ele sempre foi assim e não soube dizer. O amor é uma montanha russa misturada com um trem fantasma, altos e baixos, monstros e bruxas, fantasmas que somem e reaparecem para atormentar no futuro, curvas demoradas adiando o fim das coisas, subidas intermináveis aonde o nervosismo e a ansiedade tomam conta e os nervos entram em colapso, descidas libertadoras com direito a frio na barriga e tudo, o amor é assim. 

No caso dele, no meio desses trilhos alguns parafusos soltaram e ele quase caiu do trem, por tempos tudo parou e o parque de diversões continuou sem ele, por vezes esperou que alguém viesse tirar ele daí, algumas pessoas apareceram, mas logo em seguida viraram assombrações e sumiram, agora ele simplesmente aprendeu a arrumar o seu caminho, sabe fazer a manutenção sozinho, mas é sempre bom ter alguém sentado ao lado, disso ele nunca duvidou.

domingo, novembro 13, 2011

Desabafo de Madrugada!

Deitado na cama olhava o teto perdido em pensamentos. Voltara com essa antiga mania. Mania que às vezes incomodava aqueles que falavam sem parar com ele até se dá conta de que na realidade ele não estava ouvindo. Estava em outro mundo. Não! Em outra galáxia. Cruzou os braços abaixo da cabeça e continuou nessa posição durante alguns minutos até sentir uma leve dormência. Somente o som do silêncio se era possível ouvir.

- Não posso! Eu... Eu não consigo. Quem me dera poder. Eu queria poder sabe, mas não consigo. Sim, eu já tentei... Mas... Mas é como se... 

O silencio finalmente fora quebrado. O som das palavras ainda ecoava pelo quarto. Um som triste, angustiante. Seus olhos marejaram. Seja por qual mundo ele estava naquele momento, a cena que se passava dentro de sua mente não era uma das mais perfeitas. Mudou de posição. Virou o rosto e olhou para o lado. Seus olhos bateram imediatamente em um recente livro que comprara e nem o lera ainda: “O Enigma”. Era assim que sua vida se resumia... Em um grande e estafante enigma de todas as coisas. Como um código que jamais pudesse ser descoberto. Estava farto disso tudo. Estava farto de ser o menino bonzinho. Estava farto dessa hipocrisia sem fim que o rodeava. Estava farto das pessoas. Estava farto do amor.

- Droga! Será que você não entende? Será que é tão difícil assim? ... Então me diz... Como... Como... É só o que te peço... Como...? 

Falava como se ao seu lado houvesse outra pessoa com quem dialogava. Como se alguém o ouvisse e respondesse. Alguém que não existia ou ao menos que não pudéssemos ver. Sempre lhe disseram que nunca estava sozinho. Talvez naquele momento realmente não estivesse. Quem vai saber? Cerrou os olhos fazendo com que uma singela lágrima escorresse por seu rosto e fosse repousar no canto da boca. Era impossível saber o que se passava dentro daquela mente. Impossível penetrar suas defesas e investigar seus pensamentos. E nem nos cabe tal audácia. Depois do que pareceu uma hora ele voltou a abrir os olhos, levantou, apanhou um lápis e o seu caderno de anotações e pôs-se a escrever:
Você pode ir embora e nunca mais ser o mesmo. Você pode voltar e nada ser como antes. Você pode até ficar, pra que nada mude, mas aí é você que não vai se conformar com isso. Você pode sofrer por perder alguém. Você pode até lembrar com carinho ou orgulho de algum momento importante na sua vida: formatura, casamento, aprovação no vestibular ou a festa mais linda que já tenha ido.
Mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer bem fundo, é a saudade dos momentos simples: da sua mãe te chamando pra acordar, do seu pai te levando pela mão, dos desenhos animados com seu irmão ou irmã, do caminho pra casa com os amigos e a diversão natural, do cheiro que você sentia naquele abraço, da hora certinha em que ele sempre aparecia pra te ver, e como ele te olhava com aquela cara de coitado pra te derreter.
De qualquer forma, não se esqueça das seguintes verdades: Não faça nada que não te deixe em paz consigo mesmo; Cuidado com o que anda desabafando; Conte até três (tá certo, se precisar, conte mais); Antes só do que muito acompanhado; Esperar não significa inércia, muito menos desinteresse; Renunciar não quer dizer que não ame; Abrir mão não quer dizer que não queira.
O tempo ensina, mas não cura.
Colocou a caneta de lado e releu o que havia escrito. Havia resumido de forma única muitos assuntos de sua vida. Assuntos que só diziam respeito a ele. Sorriu. Agora se sentia melhor. Escrever sempre o libertava do peso que insistia em aparecer. Mas naquele dia, sentia que havia algo mais. Algo que seus olhos ainda escapavam. Fechou o caderno e foi dormir em paz ainda com as palavras escritas outrora na mente:

... Esperar não significa inércia, muito menos desinteresse; Renunciar não quer dizer que não ame; Abrir mão não quer dizer que não queira. O tempo ensina, mas não cura.

sexta-feira, outubro 21, 2011

Só por hoje

Engraçado como tudo que a gente vê, com olhos castanhos ou azuis, verdes ou cinza ou até mesmo negros marca a alma. Chega a ser irônico você morrer de amor em um dia para, logo em seguida, ler algo desagradável, ver uma cena que não deveria acontecer, e todo o sonho, o conto de fadas, ir virando dia de Halloween.

Todo dia é dia das bruxas, o que acontece é que algumas pessoas se fantasiam de príncipes, princesas, fadas e anjos. Usar máscara em plena luz do dia devia ser proibido, me apaixonei por ogros, bruxas e monstros horripilantes, sempre mascarados de algo melhor, algo doce.

Doce ou travessura?

Eu peço o doce mas só as travessuras me acontecem, me perdi em turbilhões emocionais e mentes bagunçadas, mas eu só queria o algodão doce e o chocolate derretendo na boca, só queria ficar com dedos lambuzados feito criança em parque de diversões, com olhos grandes admirando o mundo colorido e divertido, inocente.

Mãe, eu quero ir na roda gigante, chega de trem-fantasma por hoje. Só por hoje.

Vende-se esse coração

Vende-se um coração...
Um coração que está cansado do sofrer
Um coração que vive caindo e levantando
Um coração extrovertido
Um coração criança

Vende-se um coração relativamente novo
Um coração que já teve fortes emoções
Um coração que já foi flechado várias vezes
Um coração que insiste em amar
Um coração que sempre me deixa na mão dos apaixonados

Vende-se esse órgão fantástico
Um coração que já está um pouco calejado, machucado, desanimado.
Com ele fui extremamente feliz, experimentei aventuras magníficas.
Éramos como um só eu e ele, ele e eu vivíamos intensamente.
Tínhamos momentos de felicidade e quando acontecia alguma tristeza
Meu coração sempre me consolava nunca me deixando desabar.

Vende-se um coração poeta
Um coração que uma vez me fez escrever: 
“Durma hoje sabendo que ele vai acordar do seu lado com um rosa dizendo 'EU TE AMO' ".
Esse coração leviano, amado que vive me alimentando de esperança.

Vende-se um coração sonhador
Um coração que sempre dá uma chance achando que dessa vez vai ser diferente
Um coração que confia nas pessoas
Um coração que acha que dessa vez vai acontecer
Um coração espontâneo, vivido e animado.

Vende-se um coração inconseqüente
Um coração louco.
Que faz com que eu perca a razão
Um coração que permite que eu fique de pernas bambas.
Que deixa seu usuário sem saída de dizer não e sim faça com que ele provoque as maiores insanidades.
Um coração que faz com que correr atrás do seu amor, é pouco quando se ama.
Um coração que provoca cegueira.
Um coração impulsivo.

Vende-se esse precioso Ser inocente
Que não pode ver uma atenção especial que já se entrega em risos.
Que se mostra sem armaduras e defesas
Que se entrega a qualquer momento sem ressentimentos
Um coração que quando parar de bater irá se explicar para Deus dizendo:
“Eu fui tão bom, agradei muitas pessoas, fui gentil, apaixonado e amei. Amei como os loucos poetas. Dei muitas gargalhas e até sofri, cai, mas me levantei e continuei a jornada de enfim encontrar meu amor”.

Vende-se ou mesmo se troca ou aluga esse coração.
Quero um com mais juízo
Que saiba me dizer o que é certo ou errado.
Que ande na linha.
Que seja frio e calculista.
Porque esse coração sem pedigree, vagabundo e vadio já ta cansado de sofrer.
Um coração que compromete seu usuário fazendo com que ele exponha o mais intimo segredo... Eu te amo.

Vende-se esse coração derrotado

(Mariana Nascimento)

segunda-feira, outubro 03, 2011

Perspectiva

Bom seria se tudo na vida tivesse uma perspectiva positiva, o 100% de probabilidade de dar certo, margem de erro: zero. Mas aí a vida seria conto de fadas, os animais na floresta teriam vozes infantis e todos os príncipes andariam em cavalos enquanto as princesas dormem num sono sem fim ou esperam ser salvas da rainha malvada. Seria o tal do "felizes para sempre" e, cá entre nós, seria chato demais. E isso só falando de amor!

Seria bom se no resto do ano a gente conseguisse manter aquelas promessas feitas na virada, de começar o regime, de não discutir mais com ninguém, de não brigar com os pais, de não chorar por quem não merece, de não querer matar o chefe no trabalho quando você não tem tempo nem pra respirar... seria bom né? Mas a falta de vontade de querer matá-lo ou a facilidade pra não comer nada fora de horário seria quase uma coisa robótica, seríamos andróides bonzinhos em metrópoles calmas e futuristas, aceitaríamos o que viesse porque essa seria a nossa programação. Admirável mundo novo.

O que eu quero dizer com isso tudo é que a vontade, a dificuldade, a falta de coragem, a tristeza, o amor, a raiva, a esperança, o ódio, a indiferença... tudo traz uma lição, tudo nos torna mais humanos, SENTIR é humano. É o que te faz único, é a tua personalidade ali, expressada por lágrimas, risos ou gritos. Ta aí uma boa perspectiva pra quando você cair no choro por quem não merece: é humano, é bom, é lição dada, é você. Então, qual a sua probabilidade de aprendizado? Aos meus olhos é imensa. 

domingo, setembro 25, 2011

CDA

Não importa aonde você parou...
Em que momento da vida você cansou...
O que importa é que sempre é possível e necessário "Recomeçar".
Recomeçar é dar uma chance a si mesmo...
É renovar as esperanças na vida e o mais importante...
Acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
Foi aprendizado...
Chorou muito?
Foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdoá-las um dia...
Sentiu-se só por diversas vezes?
É porque você fechou as portas até para os anjos...
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da sua melhora...
Pois é...
Agora é hora de reiniciar...
De pensar na luz...
De encontrar prazer nas coisas mais simples de novo...
Que tal um novo emprego?
Um corte de cabelo arrojado...
Diferente?
Um novo curso...
Ou aquele velho desejo de aprender a pintar...
Desenhar...
Dominar o computador...
Ou qualquer outra coisa...
Olha quanto desafio...
Quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus, o esperando.
Está se sentindo sozinho?
Besteira...
Tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso seu para "chegar" perto de você.
Quando nos trancamos na tristeza...
Nem nós mesmos nos suportamos...
Ficamos horríveis...
O mal humor vai comendo nosso fígado...
Até a boca fica amarga!
Recomeçar...
Hoje é um bom dia para começar novos desafios.
Onde você quer chegar?
Ir alto...
Sonhe alto...
Queira o melhor do melhor...
Queira coisas boas para a vida...
Pensando assim trazemos para nós aquilo que desejamos...
Se pensamos pequeno...
Coisas pequenas teremos...
Já se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar na nossa vida.
E é o hoje o dia da faxina mental...
Joga fora tudo que te prende ao passado...
Ao mundinho de coisas tristes...
Fotos...
Peças de roupa, papel de bala...
Ingressos de cinema, bilhete de viagens...
E toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados...
Jogue tudo fora...
Mas, principalmente, esvazie seu coração...
Fique pronto para a vida...
Para um novo amor...
Lembre-se: somos apaixonáveis...
Somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes...
Afinal de contas...
Nós somos o "Amor".
"Sou do tamanho daquilo que vejo e não do tamanho da minha altura"

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, setembro 23, 2011

Recomeço

Passos leves, feito criança que levanta do chão e tenta dar os primeiros passos. É recomeço. E que seja doce desta vez, do começo ao fim, que seja doce. Que eu consiga te segurar sempre que estiver prestes a cair, que meus braços suportem o teu peso quando suas pernas falharem num momento de desespero. Que as bocas calem-se em beijos estonteantes e os braços se enrolem em mil abraços pelo corpo todo.

Sim, eu sei que o passado não foi dos melhores, não foi caminho de luz interminável com aurora boreal no fim de tudo. Sei que foram momentos ruins, com buracos em nossa estrada, e que acabamos por cair em poços sem fundo, nos perdendo. Mas a roda da vida segue girando, voltas e voltas ao redor do mundo, como roda gigante com vistas lindas lá de cima, ao mesmo tempo que nem tudo é tão belo aqui embaixo. Mas, reservei nossos lugares no topo do mundo, quero que sente ao meu lado e veja a beleza de tudo a nossa volta. Quero te mostrar que ainda há chance, ainda há mil e uma cores que seus olhos não captaram, há tantos perfumes no ar! 

Estendo-lhe agora a minha mão, olho em teus olhos e te pergunto:
- Vem comigo?

sábado, setembro 03, 2011

Caminhão de vontades

Vontade de sentar no primeiro degrau da escada e te esperar chegar do trabalho, te contar sobre o meu dia sem graça e ouvir você contar aquelas piadas que eu já cansei de ouvir mas mesmo assim, sempre acabo rindo contigo no final. 

Vontade de levantar mais cedo pra fazer aquele chocolate quente que você adora e te levar na cama só pra ver o seu sorriso me dando bom dia e sentir você se enrolando em mim feito gato quando ronrona na perna do dono. 

Vontade de esperar você entrar no banho e, logo em seguida, me esgueirar pra debaixo do chuveiro com você e te surpreender. Te ligar no meio do dia só pra dizer que eu te amo, te mandar cartinhas bobas feito um adolescente apaixonado e te fazer corar. Deixar flores na beirada da cama no dia do seu aniversário e ouvir você me falando que foi a coisa mais fofa que alguém já fez por você. 

Vontade de fazer dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço, desafiando assim as leis da física, mas jamais desafiando as leis do amor, mostrar pro mundo que dois corações podem bater num mesmo ritmo por toda a eternidade. 

Vontade de andar pela praia no meio da noite de mãos dadas ouvindo o som das ondas quebrando e sentindo o vento nos cabelos, encher o peito de ar e sair gritando sentimentalidades bobas e fofas pra natureza ouvir, como testemunha, como você meche comigo de um jeito incrível. 

Vontade de pegar o primeiro vôo pra Europa e te mostrar lugares maravilhosos ao redor do globo. 

Vontade de deitar na rede contigo no domingo a tarde, ouvindo uma boa música, e ficar em silêncio te abraçando, compartilhando sem palavras, momentos maravilhosos, porque o que sinto vai além de palavras e gestos. Num caminhão de vontades cabe muita coisa... E todas elas eu quero compartilhar com você, porque a vida é curta e o amor é lindo demais pra se deixar passar em branco.

quarta-feira, agosto 31, 2011

Camila

O corpo vai acordando aos poucos, vou sentindo cada parte retomando consciência, consigo captar os sons no quarto, o alarme do celular, muito irritante por sinal, está tocando fazem alguns minutos, nem ligo, o dia está começando. Abro os olhos cheia de preguiça e me estico na cama retesando os músculos todos, são 9 horas da manhã.

Pé ante pé faço meu caminho até o banheiro, água fria na cara pra acordar melhor, me olho no espelho, os cabelos desarrumados, a cara inchada do sono revigorante, tento um sorriso meia boca que logo é desfeito, ainda é cedo para simpatias. Uma boa xícara de café, duas torradas e uma maçã, nada mais que isso pro dia começar controladamente light, estou na minha na segunda dieta do mês, sempre acabo saindo esporadicamente da cartilha de calorias e guloseimas que se deve evitar, mas acabo voltando ao tal regime, ninguém manda minha mãe cozinhar tão bem e o restaurante chinês ser tão perto de casa. Mês passado foi a dos pontos, depois veio a da Lua, do arroz, do leite... agora eu tento simplesmente ser saudável, até me inscrevi na academia: pilates, musculação e ginástica. Vamos ver se consigo manter o ritmo por mais de duas semanas.

Jeans, o bom e velho all star branco já gasto, a camiseta branca que eu adoro e o sobretudo, boto tudo em cima da cama e corro pro banho. A água quente vai lavando tudo, toda a extensão do que chamamos corpo humano, e eu fico viajando com os meus milhares de pensamentos desconexos e vontades secretas, mas que eu não irei revelar aqui, afinal toda garota precisa de um pouco de privacidade não é mesmo? Corpo seco, roupa vestida, cabelo arrumado, um toque de maquiagem nos olhos e um perfume no pescoço, agora sim o sorriso refletido no espelho demonstra uma certa vivacidade.

No caminho para a faculdade acabo encontrando uns amigos no ônibus, todo mundo anda votando naquela lei que vai ser aprovada semana que vem sabe? A Jé anda preocupada com uns primos no Rio de Janeiro, as chuvas torrenciais andam tornando a cidade toda um caos, mas eles vão ficar bem, ela sabe disso. O Marcus está morrendo de amores pelo novo filme do Almodóvar, eu defendo Tarantinoaté a morte, são os melhores filmes que já vi. A Ana comenta sobre o lançamento da nova coletânea de contos do Caio F., acho fantástico, mas ultimamente ando me perdendo nas obras do Bukowsky. É, safadeza é levemente interessante, vai dizer? Chegamos, faço meu caminho habitual até a cafeteria. Cada um segue seu rumo.

- Dois cafés por favor. Sem açúcar.

Sempre me sento nas mesas do lado de fora, perto das árvores, obras e pessoas do campus. O que? Ta se perguntando o porque dos dois cafés? Hábito, fora que economizo tempo em não ter que levantar duas vezes pra isso, sim preguiça reina em mim às vezes. Confesso. Outro hábito é carregar o laptop para todos os cantos, abro e começo a escrever, mantenho um blog só pro meu contentamento, alguns amigos comentam vez ou outra, é um modo que eu tenho de expôr coisas que guardo aqui dentro, pensamentos, vontades, opiniões... gosto de abrir o meu livro da vida aos poucos, acho o mistério extremamente necessário nas relações humanas, ao menos um pouco dele. Você não?

Os dedos já conhecem o caminho de cada tecla, digito rapidamente sem pensar duas vezes. Saboreio o meu café em intervalos regulares e releio o que acabo de escrever:
"Sempre gostei mais de estar com alguém, me sinto mais completa. Mas agora provando dessa não-dependência que tenho, essa auto suficiência, acabo medindo o que me proporcionaria mais felicidade. E com certeza não é estar sozinha."
Eu estou saturada dessa solidão auto-suficiente que me deixa num ninho seguro e distante dos outros sabe como? Juro pra você que eu adoraria ter alguém comigo, tendo todos aqueles momentos clichês, andando no parque no fim da tarde, vendo filme em pleno inverno debaixo das cobertas, contar segredos, fazer amor, ficar rindo feito bobo quando o outro faz algo bonitinho, trocar presentes e surpresas... eu quero isso mesmo. Mas cadê a pessoa certa? Todo mundo anda afim de curtição, de "one night only", uma boa trepada aqui e outra ali, sem saber nada sobre o outro, sem ter o mínimo de interesse pela pessoa que ta ali do lado. Isso eu não quero não, nem faço questão. Já me machuquei demais com pessoas assim, com amores passados, eu já vivi muito em matéria de sentimentos, em matéria de amor. Como diz a Tati Bernardi: "Se as relações são feitas também de tanta maldade, por quê? Se arranhamos e beliscamos tanto só pra tocar alguém." Porque as pessoas complicam tanto essa área de envolvimento? 

Estou naquele momento que, por mais que eu queira mesmo esse alguém incrível que nunca aparece, eu me sinto bem sozinha. Percebo diariamente que não preciso de mais ninguém além de mim pra ser feliz, que a minha vida, minhas decisões, meus dilemas e planos dependem apenas de mim, da minha dedicação e interesse. Eu não preciso me botar em segundo lugar pra ver alguém desfilar no meu tapete vermelho, eu sou a estrela do meu show. Eu gosto do meu café amargo sem ter ninguém pra adoçar, dos meus textos sem ter quem os leia, do meu cabelo despenteado todas as manhãs sem ter quem tire sarro, mas admito que isso tudo faz falta. Não, eu não acredito que o príncipe encantado vá aparecer na minha vida, me pegar no colo e fazer com que todo o meu mundo vire uma animação da Disney, mantenho meus pés no chão, sou super realista, é como diz aquela música do Paramore "keep your feet in the ground when your head's in the clouds" sabe? Eu quero me entregar, me jogar num bungee jump de sentimentalismo, só fico esperando alguém realmente interessante me convidar pra isso. 

Meu Deus, uma hora da tarde, agora é ir correndo pra aula de Marketing. Essa droga de elevador sempre demora, incrível. Oi? Ah, eu faço Publicidade, sempre tive interesse. Não, nunca pensei em usar esse tipo de conhecimento pra vender e expôr meus pensamentos sobre o amor utópico e os relacionamentos mal resolvidos, acho que isso vai de cada um, das dores, alegrias e experiências de vida. Afinal, uma boa depressão rende mais sabedoria do que duas horas falando sobre como vender um produto com anúncios gráficos. Por sinal, meu nome é Camila, prazer. Quinto andar, é aqui que eu desço, bom conversar contigo, e nunca esqueça que esse escudo todo de auto-suficiência não faz mal, é só não se deixar radicalizar virando um eremita sem sentimentos e sem necessidade de contato humano ok? Mal sei seu nome, mas agora realmente to atrasada, a gente se vê por aí certo? 

Nem tive tempo de responder. Meus olhos ainda estavam assustados olhando a menina se afastar. A mesma menina que assim do nada desabafara em um elevador. Yeah... Ele as vezes também sentia esse forte desejo de desabafar... mas assim com um desconhecido? As palavras dela ainda ecoam em minha mente. Sorri comigo mesmo. Ela parecia interessante. Muito mais interessante do que ela sequer imagina. E a última coisa que eu vejo são as portas do elevador se fechando enquanto Camila caminha... cheia de pensamentos interessantes.

domingo, agosto 21, 2011

Trechos CFA

E hoje por aqui comparto alguns trechos de Caio Fernando Abreu de contos, livros diferentes. Acho que eles vão traduzir bem este momento.

"Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga. Algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação, esse contentar-se com quase nada. Estou todo sensível, as coisas me comovem. Tenho regressões a estados antigos, às vezes, mas reajo, procuro me manter ligado às coisas novas que descobri."

(...)

"Me mande mentalmente coisas boas. Estou tendo uns dias difíceis, mas nada, nada de grave. Dias escuros sem sorrisos, sem risadas de verdade. Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor, porque meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto sonho, e eu posso tornar tudo realidade. Quando acordo, vejo que meus sonhos não passam disso, sonhos; e é assim que cada dia começa: desejando que não tivesse começado, desejando viver no mundo dos sonhos, ou transformar meu mundo real num lugar que eu possa viver, não sobreviver."

(...)

"Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. (...) Chorei."

sábado, agosto 20, 2011

Inverno


A incerteza é uma amiga constante nesses dias frios, até o coração começa a esfriar depois de um tempo sem carinho. Não estou pedindo um amor enlouquecedor porque as circunstâncias atuais nos impedem disso, mas amor amigo, amor carinho, amor afeto, amor reconfortante, apenas amor... desse eu posso dispôr e pedir em nome dessa amizade toda, correto? Amor assim é como uma leve brasa nesse inverno, que ia manter o peito aquecido até a verdadeira fogueira se acender aqui dentro, preenchendo os vazios do meu labirinto interminável, com buracos imensos nas paredes, minotauros agressivos e princesas perdidas em busca de um caminho pra casa. E eu me pergunto: é pedir demais?

Eu queria poder simplesmente ir adiante e fechar todas as portas que me me atrasam, me fazendo permanecer aqui ou voltar sempre atrás, voltar pra você. No fundo eu acho que ir embora seria esmagador agora, mas num futuro próximo eu sentiria alívio, sentiria a leveza de andar por aí sem o peso do meu amor e do teu descaso nas minhas costas. E não sei, talvez seja um ato se piedade, desespero ou esperança, mas eu permaneço aqui parado olhando pela porta vermelha do meu coração esperando você voltar. Eu te dei uma cópia da chave te dando total liberdade de entrar quando quiser, e sigo esperando sentado em frente à lareira tentando me aquecer nesse inverno triste enquanto você não chega. De nada adianta você chegar no verão todo quentinho cheio de amor por mim, eu te quero nesse inverno. Eu fico porque, no fundo, eu quero ver no que a gente vai dar.

Amor, entenda que o que eu sinto não diminui, só vai se apagando, é o meu jardim se enchendo de ervas daninhas e ficando feio sem as flores que você plantou um dia. Não me queira por perto como troféu ou souvenir, me queira como uma roupa que nunca tira do corpo, como uma jóia que enfeita o teu pescoço... como uma flor que você rega sempre que pode. Eu só preciso de um pouco de manutenção e não é do tipo que custa dinheiro, é de graça, se chama carinho, compreensão e atenção. O descaso é veneno aqui, me entende.

Eu te espero, até que o inverno acabe. Quando o Sol brilhar lá fora eu vou deixar que ele entre em minha vida, trazendo um novo alguém para ser aquilo que você nunca foi, alguém sem meio termo, alguém sem medo de viver algo intenso.

"Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais..." (Tati Bernardi)

terça-feira, agosto 09, 2011

Ler ou não ler?

Olha eu não sei te dizer como o amor aumenta assim, gradativamente a cada dia que passa sem você fazer o menor esforço pra isso acontecer. Tento explicar isso com palavras, pensamentos e muito raciocínio mas acho que essas coisas fogem do controle e da razão. Na verdade acho que em algum lugar por aí existe um grande livro aonde todas as nossas histórias foram escritas, nosso passado, presente e futuro... Não tem nada relacionado com a ideia de destino. Não! Nós tomamos decisões todos os dias que praticamente constroem todo um futuro que ainda não sabemos. O futuro é decidido no agora, no hoje. 

Acho que Deus ou seja lá qual for a força que move o Universo se diverte muito lendo tudo o que foi escrito, aposto que Ele já chorou com nossas brigas épicas, se irritou com nossas discussões e lamentou pela teimosia que insistimos em ter sempre. Fazer o que, acontece... Mas Ele também riu com nossas brincadeiras e ficou muito feliz enquanto a gente sorria por aqui, e sinceramente, espero que naquelas horas íntimas Ele tenha virado o rosto ou fechado os olhos.

Nas linhas desse livro deve ter uma explicação pra todas essas coisas que acontecem na vida da gente, o amor que aumenta, o sorriso sincero, o beijo demorado, o abraço apertado, as palavras amargas, as lágrimas de raiva e de desgosto, os braços cruzados, as pernas entrelaçadas, o primeiro olhar, a primeira palavra, o primeiro "eu te amo", o último adeus...

Se você me perguntasse hoje, se eu teria a vontade de ler cada página dessa história eu confesso que negaria. Prefiro viver na surpresa e incerteza de saber o dia de amanhã, valorizando cada momento e aprendendo sempre novas lições do que viver numa rotina sem sentido sabendo quando termina e quando vai doer mais.

Eu quero o hoje, enquanto lembro do ontem e planejo um amanhã lindo e deslumbrante!

domingo, julho 24, 2011

Rodizio

Acho que o nosso erro às vezes é tratar o amor como um grande rodízio, é... Bem pizzaria mesmo! Você bota o seu coração na bandeja e sai servindo, alguns degustam e não pedem mais. Ah... Tudo bem não faz diferença. Outros pegam porções maiores e você acaba sentindo falta, mas passa, tudo se recompõe. Uma nova rodada! Mas certas pessoas levam tudo, devoram, destroem... E acaba tudo. O que te sobra é a bandeja vazia. O peito vazio, aquele buraco nojento e feio. É triste.

Mas o nosso erro é oferecer o coração assim sem ter a certeza de que vai valer à pena. É chegar com a bandeja em pessoas que não conhecemos inteiramente, ou que até conhecemos, mas não temos a certeza de que realmente vai durar, chegar nelas com o coração na bandeja e falar: "Quer experimentar? Vai mais um pedaço?" Isso é paixão. Não se oferece o coração na paixão. Já o amor não. Nosso amor não é para degustação momentânea, não é canapé, não é doce pra comer depois da janta. Nosso amor é a grande refeição, a Santa Ceia, é o que se tem de mais saboroso na vida.

O que é triste é quando tudo o que dizem sobre ele, pra você... Não passam de palavras. É triste quando as atitudes que tomam a seu respeito não alcançam o que os lábios pronunciam, triste quando os olhos continuam negros mesmo quando a boca esboça um sorriso, e mais ainda, é triste quando a mão que está estendida te oferecendo ajuda, na realidade só quer ter degustar naquele momento e ir pro prato principal em outro lugar qualquer.

Valorizemo-nos!

Conheçamos muito bem as pessoas a nossa volta. Não nos ofereçamos de bandeja sempre que alguém interessante aparecer. Guardemo-nos para quem realmente nos quer, pra quem realmente vê o nosso real valor. As tristezas e desavenças vida afora a gente guarda na lembrança e usa como lição. E, que fique claro, ninguém nunca morreu de amor e, por mais que seja difícil acreditar em certa altura, tem sempre alguém feito sob medida pra gente. É só abrir os olhos e esperar. A hora chega!

sexta-feira, julho 15, 2011

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Autor: Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, julho 12, 2011

Uma mensagem para você!

Ele anda de um lado ao outro. Aflito. Já faz um tempo que essa vontade insana habita dentro do seu peito. Como uma bola de neve que começa a rolar do alto da montanha e à medida que desce vai crescendo e crescendo. O telefone descansa sobre a mesa da sala. E o olha uma vez e outra vez. Sabia que se não fizesse naquele momento, não iria ter força para fazer em outro. Mas e se... Se desse tudo errado? Se não entendessem? Ah... Que se dane! Ele caminha decidido, apanha o telefone e disca alguns números. Alguns toques e nada. Logo ouve um bip. A secretária eletrônica. E agora? O que fazer? Abre a boca para falar, mas perde a coragem e desliga bruscamente. Não! Não podia simplesmente deixar uma mensagem. O que diria? Como diria? Teria esse direito? Olhou novamente para o telefone. Inspirou profundamente e discou os números novamente. A secretária de novo. Fechou os olhos por um momento. Era agora ou nunca. Abriu a boca e permitiu que as palavras viessem de dentro de si:
- “Não deleta isso, tenho muitas coisas para contar, coisas que eu preciso te falar agora porque depois eu não vou conseguir. Só me escuta, tá? No final disso tudo você me manda sumir ou me fala alguma palavra de consolo triste para que eu fique bem e consiga continuar com a minha vida sem você. Pode até deletar essa mensagem sem me mandar resposta alguma, eu vou tentar entender isso tudo, prometo. Olha, eu te amo. Lembra quando o encanto começou? A gente só conversava sobre coisas um pouco inúteis, nada demais, e do nada eu comecei a ver em você algo a mais, comecei a ver uma pessoa que me atraía fisicamente, que me encantava com um simples sorriso, e eu tive medo, confesso. Medo de perder o que eu sequer havia conquistado, medo de perder aquele sorriso para sempre, de nada ali ser correspondido e eu sair sem sorriso, sem amor e nem amizade.”
Silencio.
- “Acontece que foi tudo muito bom, lembra da vergonha que sentimos? Cada gesto... Quem diria que tais gestos nos levariam algum tempo depois às declarações como esta dita no meio da madrugada ao telefone, não é? Não me arrependo de nada, talvez me arrependa de não ter te amado mais. De não ter esperado mais. De ter agido desesperadamente, de forma tão afobada. Mas... quem sabe... tudo acontece como tem de ser... vai ver não era a nossa hora. Espera! Logo eu termino, eu juro, não desliga. Eu tenho medo de que, se eu sumir por uns tempos você não vá sentir saudades, medo de que outra pessoa ocupe esse posto especial que eu tenho no seu peito e eu passe a ser mais uma foto no seu álbum de recordações, medo que a minha foto na sua carteira fique sem cor, envelheça e você nem lembre mais do motivo dela estar ali. Tenho vontade de sentir o teu corpo encaixando perfeitamente no meu abraço, de poder olhar nos teus olhos e simplesmente sorrir e ver toda a sua beleza estampada ali na minha frente como foi há tempos atrás. Vontade de sentir o toque da sua mão no meu rosto e poder fechar os olhos por instantes sabendo que não é apenas um sonho, de encostar minha boca na tua e sentir todo esse calor acumulado de tantos meses longe, sentir o gosto do teu beijo e ter a certeza de que tudo, tudo vale a pena.”
Silêncio. Um ruído. Parece que ele havia chorado. Momentos depois novamente começa a falar.
- “Eu tenho vontade de você. Eu sempre tive e sempre terei essa vontade insana de ter você. Não percebeu que, em matéria de amor verdadeiro, é só você? O resto é como um resfriado bobo que dá e passa depois de um tempo. Como um ferro em brasa você marcou o meu peito para sempre, nada e nem ninguém vai apagar você de mim, é impossível. Ta aí, eu disse tudo do modo mais simples possível. Garanto ser a mensagem mais longa que você ouviu após o BIP, certo? Bom... se cuida, tá? Por mim, por você... por tudo que foi nosso um dia... o mundo foi nosso um dia, não esquece disso. Tchau.”
Ele desliga. Seu coração se sentiu um pouco mais leve. Há muito vem tentando verbalizar isso. As lágrimas ainda podem ser vistas em seu rosto. É estranho como as coisas acontecem. Estranho como o mundo gira. Ah... Se pudesse fazer o mundo girar e trazer você de volta! “O mundo foi nosso um dia, não esquece disso” Murmurou com a cabeça na almofada do sofá e dormiu.

quarta-feira, julho 06, 2011

Não vai ser pra sempre

Você disse que me quer para sempre... Como assim? Alguém aqui tem bola de cristal para prever uma alegria que dure tudo isso? Calma. Sentimentos são passageiros, duram dias, semanas, anos... Décadas e assim em diante. Mas tudo que começa um dia termina, é como um ciclo natural como nascimento, vida e morte. Me entende? 

Minha racionalidade não diminui meus sentimentos, não mesmo. Te amo muito, sempre lhe digo isso, a diferença é que eu não acredito mais em contos de fadas, eu cresci. Me sinto mais firme, já vivenciei muitas coisas e é daí que vem a minha noção de que tudo um dia encontra seu fim. 

Já amei algumas pessoas, uma ou duas eu quis ter pra sempre, acredite. Mas o "pra sempre" acabou, durou pouco tempo. Amizades que eu achei que levaria para a minha vida adulta sumiram por brigas tolas e infantis. Até alguns familiares sumiram, não tenho notícias. Eu aprendi a me manter intacto, sofro, não minto, quando algo ruim me acontece e quando perco pessoas de que gosto, mas isso tudo passa. Deixei pedaços meus no passado, no coração de pessoas que amei e trouxe pedaços avulsos delas comigo. Sou feito de recordações, boas e ruins, me constroem. 

Quero ter muitas recordações contigo, do passado, do presente e de um bom futuro. Não vai durar pra sempre, tenha isso em mente, mas saiba também que será inesquecível, dure o tempo que for. Seremos únicos. Você já carrega um pedaço meu contigo, assim como eu trago o seu comigo e assim vamos montando uma colcha de retalhos incrivelmente linda chamada vida. 

Sua colcha é quem você é. São as suas lembranças da família, da infância, do colégio e dos amigos, dos namoros passados e das paixões passageiras, daquela sua viagem, daquele porre que você tomou semanas atrás, daquele filme que você ama de paixão, daquela sua coleção de CD's e livros e até das suas roupas descoladas. Tudo isso é uma grande colcha multicolorida que você carrega e se cobre todos os dias, me entende? 

A vida traz surpresas escondidas em caixas bem enfeitadas, convite ao desconhecido. Um dia abriremos caixas diferentes, simples assim. O que me importa é a sua felicidade e a minha também, mesmo que isso signifique não ter mais a sua colcha para cobrir meu corpo todas as noites.

domingo, julho 03, 2011

Obrigado

A casa estava fechada há anos, cheirava a mofo e havia poeira por todos os cantos, eu a havia abandonado. Agora a primavera chegou, você entrou pela porta da frente com a chave que eu te dei e saiu abrindo cortinas e janelas, deixando o ar da manhã entrar aos poucos, a luz do sol refletir nos móveis antigos e gastos, você foi tomando conta e hoje tudo naquela casa brilha, tem perfume de rosas no ar e tudo é novo, é como se você fosse reformando aos poucos o cenário velho que eu estava acostumado a ver.

Essa casa é secreta, eu a construí no alto da colina e a travessia até lá é muito difícil, é como um teste de resistência pra ver quem realmente merece ter a chave da porta da frente, essa casa é o meu coração. Ele vive lá no alto, fora de alcance. Não sei se você é alpinista, atleta ou qualquer outra coisa, só sei que aos poucos você escalou essa muralha que eu construí pra me defender, pra não me machucar, minha defesa natural contra as desventuras que o amor apresenta feito espinhos de rosas que machucam a carne... Você venceu todas as barreiras que eu te apresentei e hoje a casa da colina tem flores nos canteiros, música suave saindo da vitrola, cortinas brancas esvoaçando pelas janelas abertas e cheirinho de café fresco no ar, é a tua moradia, é lá que eu te encontro todos os dias e vejo fotos nossas na parede e bilhetinhos de amor no mural ao lado da porta, é lá que eu me enrolo no teu corpo sob os lençóis todas as noites e te encho de beijos pela manhã. É meu novo paraíso.

Você é o meu paraíso, anjo que veio me ensinar muitas coisas e me mostrar que, amor verdadeiro, de fato ainda existe. E por isso tudo eu agradeço, obrigado por ser uma pessoa assim tão maravilhosa.

terça-feira, junho 28, 2011

Inocência

Ela se olha no espelho há exatamente uma hora, os dedos longos tocam cada linha do rosto desenhando as feições que ela conhece bem há quase 21 anos, tenta forçar um sorriso, nada... Soa falso, está aí o motivo pelo qual você raramente vai achar uma fotografia aonde ela apareça sorrindo intencionalmente, sempre soa falso, sorriso totalmente forçado. Ela acha feio. As poucas fotos esboçando esse tipo de alegria foram tiradas de surpresa e são dessas que as pessoas gostam, dizem que ela sorri bonito, que devia fazer isso mais vezes, mas é que realmente às vezes não é tão fácil assim sorrir.

Sempre achou que essas pessoas que vivem felizes, que parecem ter saído de um desses comerciais de margarina aonde a família toda toma seu café da manhã sorrindo cheio de amor para dar como se tudo no mundo fosse perfeito na realidade são mentirosos. Porque tudo tem prazo de validade na vida, tudo tem começo, meio e fim, inclusive a felicidade. Até porque a própria vida tem um fim, a única certeza que se tem é a morte, o resto é incerto.

Tira toda a roupa e entra no banho, a água quente soltando vapor em espirais que ela observa, absorta em pensamentos e lembranças. Quando era criança desenhava coisas no Box do banheiro aproveitando o vidro embaçado, era o seu divertimento, desenhar, escrever e depois jogar toda a água fora que podia até apagar tudo aquilo para logo em seguida começar novos desenhos enquanto a mãe lhe lavava o corpo. A infância é sempre uma das etapas mais saudosas da vida, por mais sofridas que venha a ser, a inocência infantil é algo irrecuperável depois de longos anos, aquela criança que corria atrás dos pássaros na praça tentando alcançá-los conforme eles voavam, a criança que desenhava seu nome na beira da praia só pra ver as ondas apagando tudo e em seguida começar de novo, a criança que sempre encontrava algo de mágico no mundo, por mais trágico que esse mundo fosse lá fora, ali aos olhos dela, era tudo novo e lindo... E agora, aos 21, ela escreve seu nome em letras grandes com o dedo molhado... Tem como recomeçar tudo de novo se o nome se apagar do vidro? Acho que não, a inocência e o mundo mágico se foram, agora é realidade nua e crua.

domingo, junho 26, 2011

Me diz...

Me diz, porque que o peito dói tanto hoje? Me explica porque a gente sofre a toa por aí e não se valoriza dizendo pro mundo "me ame quem quiser, minha auto-suficiência é real". Porque a gente se faz forte, de incrivelmente feliz, quando na realidade lá dentro o nosso mundo está aos cacos, o coração pulsa aos trancos e barrancos e tudo que você queria era que alguém totalmente sincero te estendesse a mão ou fizesse um afago, passasse a mão de leve na sua cabeça confusa e pesada e, ao estender os dedos, chegasse a tocar seu coração e te desse um bom motivo pra continuar sorrindo todas as manhãs quando você se vê no espelho.

Enche o saco ser solitário por tempo indeterminado, enche o saco ver o coração ir murchando e você ir se tornando um típico "coração gelado", se tornando inatingível para qualquer um, se fechando pra toda e qualquer emoção real com medo de acabar se entregando e caindo num abismo sem fim, tendo uma queda mortal e dolorosa. A queda extrema é o fim de tudo, é a depressão sentimental e o fechamento de um mundo colorido dentro de um baú, deixando que o mofo tome conta e as traças acabem com tudo, eventualmente.

Irrita também você supervalorizar os amigos e as pessoas próximas mesmo quando você já tem alguém no peito tornando tudo colorido e quando as coisas se invertem e eles acabam arranjando alguém e você se torna só, eles mudam. Namorar é ótimo, mas tenha em mente que namoros acabam, amizades deviam durar mais do que simples namoros... Quem vai te segurar e te fazer parar de chorar quando a primeira briga com o namorado ou namorada chegar? Eu? Não sei não hein... Só digo isso. Valorize quem sempre teve você como prioridade, não torne opção, descartável, ordinário e frívolo.

Me diz, será que é tão difícil assim ser feliz? Me explica porque a felicidade às vezes parece como o vento: ele existe, você até o sente, mas nunca consegue tê-lo de verdade. Como se sua procura, sua busca fosse sempre em vão. Chega até ser irônico. Enche o saco, de fato, todas essas coisas. Talvez um dia melhore, talvez não. Talvez nunca saiba. Enfim... São só pensamentos, idéias. Mas é como disse certa vez uma escritora:

"Acho tudo um grande porre. Um grandessíssimo porre."

sábado, abril 02, 2011

O que fazer do meu amor?

- Cuidado com a terra, Marina. - Disse Erica num tom calmo, olhando para a prima brincando no parque. Da última vez que ela foi levar sua prima ao parque, as coisas não foram bem como ela tinha planejado. Era melhor tomar mais cuidado dessa vez. Depois de observar a menina se afastar correndo até a mãe dela, resolveu caminhar pela praça. Era uma pracinha, a única naquela cidadezinha, mas era o suficiente para se sair um pouco da rotina, pelo menos. Erica caminhou com calma por todas aquelas crianças felizes. Ela reconhecia aquela felicidade, mas hoje era como se fosse algo distante, impossível de ser alcançado. Ela havia endurecido um pouco. De uma maneira que para ela era positiva. Perdera aquela excentricidade característica da adolescência. Agora, se comportava como uma mulher séria, aparentando ser bem mais velha do que de fato era. Sentou-se num banco marrom, passou as mãos pelos cabelos e ficou olhando ao redor, admirando todas aquelas crianças. Era realmente louca por crianças. 

- Erica? - E seu coração parou. Ela pôde jurar que ele fazia o caminho inverso, agora estava se dirigindo a sua boca. A respiração não saiu. O transe foi tão completo que ela quase se deslocou de onde estava mentalmente. Não podia acreditar no que escutava. Naquela voz. Sem respeitar a sua surpresa, o homem sentou-se ao seu lado. Ela respirou fundo e o encarou. Fria. Fria como tinha aprendido a ser. Encarou aqueles olhos apenas para se certificar que continuavam tão belos quanto antes. Deixou que um sorriso falsamente simpático escapasse. 

- Oi, Alex. Quanto tempo! - E a cada segundo parecia uma eternidade, como se ele sugasse sua energia vital e agora ela mal conseguia desviar os olhos dos dele. Como se quisesse se afogar e morrer naquele olhos, novamente. 

- Não acreditei quando te vi aqui. Sabe, você sempre foi tão talentosa, achei que você daria um jeito de sair dessa cidade. - Ele falou de uma maneira tranqüila, como se fossem velhos amigos, e isso foi o que mais a machucou. Machucou até seu último fio de cabelo. 

- É... As coisas não foram tão fáceis. E você, como está na Espanha? - Cada palavra parecia um corte. Ela se esforçava cada vez mais para não desabar e chorar, como sempre fez. Como conseguia tratar da viagem dele com tanta naturalidade? Nem ela sabia. Existem coisas que o sofrimento faz por nós, que não conseguimos entender. 

- Ah, tá tudo certo. Estou terminando meu curso por lá, não sei qual será meu próximo destino. Provavelmente irei continuar trabalhando por lá. - Ele deu uma pequena pausa, mas que não passou despercebida - Você continua linda! Quais as novidades? - E então ela desviou o olhar. Fitou um ponto fixo na sua frente, repetindo para si mesma que se aquietasse. Como ele poderia ter esquecido tudo? Como as coisas se apagaram assim tão rápido da sua memória? Ele falava com ela de uma maneira tão cínica, que ela quase teve vontade de vomitar. 

- Obrigada... Ah... Não tenho novidades não. Continua tudo a mesma coisa. Só Caroline que está noiva - "Era para ser eu, mas não é por sua culpa", pensou. Mas jamais diria. Com o tempo, aprendeu também a ser contida. Pensava muito antes de falar as coisas, antes de se permitir agir. E tudo o que ele tinha lhe falado, que seria difícil sem ela, que estava fazendo isso por seu futuro, sua vida. Que nunca a esqueceria. Tudo passou na sua mente como um filme, como se estivesse prestes a morrer. Mas o filme passou tarde, por dentro ela já havia morrido há muito tempo. Se hoje seguia em frente e era uma ótima profissional, era exclusivamente por suas prioridades e planos. 

- Ah... que novidade maravilhosa. Espero que ela esteja feliz. Bom... Eu já estou de partida, tive que vir visitar meus pais, meu avô, ele... - Ambos escutaram uma voz feminina o chamando. Ela se virou para o lado, e deu de cara com uma mulher alta, loira, bonita e...grávida. Seus olhos se cruzaram e ela pôde sentir uma ponta de inveja. Era para ser ela, ela sempre soube disso. Que era pra eles terem ficado juntos. Mas existem coisas horríveis na vida que somos obrigados a aceitar, e então nos consolamos, dizemos que é destino. Esperamos que isso diminua nossa dor um pouco que seja. Mas adivinhem? Não diminui. O tempo não nos faz superar, nos faz aceitar. Existem coisas como amores perdidos que funcionam assim. 

- Er... acho que eu preciso ir, Etty. Foi bom te encontrar.- E então ele lhe deu um beijo na buchecha que foi quase uma agressão contra a história deles. De tantos beijos na boca e abraços sinceros. E foi isso que ela sentiu. Mais uma vez, ela se viu dando adeus ao amor da sua vida. Mais uma vez, seu coração foi partido em vários pedaços. Mais uma vez, achou que fosse desabar, se esfacelar, e mais uma vez, suportou. Incapaz de falar, apenas fez que sim com a cabeça e sorriu, se levantando e andando rápido na direção contrária deles. Não precisava ver aquela cena de novo. Erica caminhou até sua prima. Falou alguma coisa com a mãe de sua prima e foi caminhando para casa. Alex caminhou até sua mulher e lhe deu um beijo na bochecha, então olhou para o lado com o olhar mais triste do mundo. Ela tinha ido embora. E sequer tinha sido capaz de perceber o tamanho do amor que ele ainda sentira. Talvez tenha sido melhor ela não perceber, ele pensou. 

- Mi cariño, Me gustaria haber conocido tu abuelo. Ah, y creo que estoy empezando a gustar del nombre de nuestra niña. Tu estas correcto, Erica es un nombre muy lindo.(1) - Um sorriso quase triste surgiu na face de Alex, e então ele passou a mão pelo corpo da esposa e começou a andar, falando baixo enquanto olhava para frente. - Você tem razão. Erica é o nome mais lindo do mundo. 

(1) Tradução: Meu carinho, eu gostaria de ter conhecido seu avô. Ah... acho que estou começando a gostar do nome de nossa filha. Você está certo, Erica é um nome muito lindo.

TExto Original: AQUI

segunda-feira, março 28, 2011

Carpe Diem

Todos os dias, religiosamente, Diana estava no ponto de ônibus perto de sua casa. No total, dava uns quinze minutos andando da saída do cortiço onde morava até o local, mais ou menos seis músicas na sua conta. Dois pequenos pontos, inseparáveis, sempre estavam conectados em suas orelhas. Seus fones de ouvido ligavam ao celular, que exaustivamente reproduziam músicas diversas. Ela optava pela música internacional, afinal estava sempre antenada no mundo. Internet, redes sociais, MSN, Orkut, tudo isto é a vida de Dih, como a própria prefere ser chamada em seu ‘universo virtual particular’. Seguia para a escola com os fones no ouvido. Não escutava as buzinas dos carros, o ronco das motocicletas, muito menos os latidos dos cachorros, o miado dos gatos, o som do vento farfalhando as folhas da árvore, nada. Preferia ditar sua própria trilha sonora, amparada pela tecnologia. Achava que, com aquele aparelhinho minúsculo, sua vida poderia ser como nos filmes – com música própria para cada momento.

Diariamente, sem pestanejar, estava Diana no local. Não olhava para os lados, não ouvia ou via a conversa dos outros. Fechava-se dentro de seu próprio universo moldado pela sua música e pelos seus fones. Tecnologia, ó doce tecnologia. Certo dia, entretanto, suas baterias lhe traíram e o celular apagou assim que chegou ao ponto. Não dava tempo para voltar até sua casa, muito menos tinha uma reserva. Sem bateria, lhe restou, a contragosto, se ‘desplugar’ de seu mundinho e escutar as buzinas dos carros, o ronco das motocicletas, os latidos dos cachorros, o miado dos gatos, o som do vento farfalhando as folhas da árvore. Agora tudo estava ali, como uma inundação de novos sons. Como um novo mundo. Acabara ela de pisar em um outro planeta?

O ônibus já parava no ponto e ela quase tomou um susto com o som do freio que não funcionava direito e com o ressoar da fumaça escapando pela descarga. Surpresa, Diana era devorada por uma realidade da qual esteve alheia a muito tempo. Viu a conversa das pessoas, seus sorrisos e suas preocupações. Sentou-se no último banco, num único lugar vago. Ao seu lado, um rapaz de olhos negros como a noite e de farto sorriso resolveu falar:

- Olá, eu me chamo Ezequiel.

- Dih... – travou, num instante, ao pensar que ele poderia rir de seu apelido virtual. - ... sou a Diana.

- Poxa, muito prazer... - Respondeu o rapaz. - ... Diana. Sabe, todos os dias eu te vejo pegando este ônibus, mas você sempre está com uns fones no ouvido e parece sempre no mundo da lua. Há tempos queria te conhecer, felizmente hoje você está sem eles!

Pela primeira vez, Dih abriu espaço para a Diana. E sem os fones e sendo ela mesma, teve o prazer de conhecer alguém no mundo real. Ezequiel foi apenas o seu primeiro amigo, depois dele vieram outros. Aliás, Ezequiel não só foi seu amigo, mas também se tornou seu namorado algum tempo mais tarde. Depois de um dia ‘fora do ar’ e longe dos seus fones, Diana realmente soube o que é... estar viva.

Acesse o seu mundo. Esteja conectado a vida. 

Texto Original: AQUI

sexta-feira, março 11, 2011

Há algo na chuva


Eu não sei, parece que em alguns filmes, a cena perfeita do beijo perfeito tem de acontecer na chuva! Ou, mesmo, só a cena perfeita. Precisa ter beijo não. Um dia desses, eu vi Diário de uma Paixão, ou parte do filme, e o beijo que premiou os atores do filme como o melhor beijo do ano – segundo minha neta mais velha – , foi na chuva. Sei lá. E, outra coisa: enterros! Enterros sempre acontecem em um dia chuvoso, feio. Quer dizer, a pessoa morreu e o dia, sentindo a perda, ficou mais triste. Já parou para pensar que, se isso fosse para valer, não ia existir dias ensolarados de verão. Ou inverno, muito menos neve, porque eu acho que nevar e chover ao mesmo tempo é muito estranho.

Não, não, isso não é uma reclamação, querido. Mas, eu nos meus tempos áureos, não beijei meu velho na chuva. Não foi o primeiro beijo, e ele, nem o primeiro namoradinho, mas foi com ele que tive o primeiro beijo perfeito. Aquele que te faz flutuar sem sair do chão, sabe? E, com ele, que eu construí uma família. Então, ontem minha netinha viu Encantada. Tinha uma cena em que o casal se beijava na chuva. Eu não entendo a importância que a chuva tem nessas cenas. É para deixar mais romântica? Mais dramática? Mais tensa? Se for de noite, a cena, eu mal enxergo!

Meu velho não entende. Disse “deixe de paranóia, velha, é só um filme”. Um filme não! E eu não sou paranóica. Meu marido não entende. Como podem passar filmes assim aqui? Nem mesmo quando São Paulo era a terra da garoa, essas coisas aconteciam. Meu primeiro beijo, o que não foi com o meu velho, aconteceu em um dia quente de verão. O primeiro beijo meu e de João, meu marido, foi no inverno. Não chovia. Continuei esse debate com ele. E então, ele me respondeu, certo de que me pegaria: “nossos filhos nasceram em dias chuvosos. E nossos netos também.” Todos eles, sim. Três filhos, oito netos, onze criaturas que mudaram nossas vidas. Todos nasceram em dias chuvosos e até lembro que Mariana, esposa do meu caçula, chegou encharcada no hospital...

Todos os onze iluminaram minha vida, trazendo sentido à ela e uma significado novo à minha jornada aqui. Sim, eles iluminaram minha vida nos dias de chuva... É, talvez haja algo na chuva, mesmo.

Texto Original: AQUI

segunda-feira, março 07, 2011

O Porquê das Coisas: Amor

Sexta-feira à tarde, depois do lanche...

- Pai?
- Sim?
- O que é amor?
- Quê?
- É, o que é amor?
- Ah, filha, amor é quando você gosta muito de alguém.
- Mas, aí não seria a mesma coisa que gostar? Qual é a diferença?
- A diferença está no modo e na intensidade.
- Ah... tá... E paixão? Aonde entra?
- Paixão é quando você gosta um pouquinho de alguém.
- Se tudo é gostar, por que tem nome diferente? Não é mais fácil deixar só gostar e aí dizer o quanto?
- Sim, é, querida.
- ...
- ... ?
- Ô, pai?
- Fala, filha...
- O que você sente pela mamãe? Amor, gosta dela ou paixão?
- Amor.
- E por mim?
- Amor também.
- Mas, é o mesmo tipo de amor?
- Não.
- Por quê?
- Por que o quê?
- Por que você ama a gente diferente?
- Ahhh, bom... Porque... Bom, porque o amor que eu sinto por ela pode não durar e, o que eu sinto por você é pra sempre.
- Como assim?
- Como assim o quê?
- Como assim sendo?! Você não ama a mamãe de verdade?
- Amo!, mas...
- Então se é de verdade, é pra sempre, né?
- Nem sempre.
- Por quê?
- Ah, porque... Porque às vezes o amor acaba, ué!
- Então... você pode não me amar mais?
- Isso nunca!
- Mas, e a mamãe? Por que com ela é diferente?

- Porque é... Assim, filha, ó: o amor que eu sinto pela sua mamãe é como a chama de uma vela acesa. Ela pode durar até a vela ficar pequeninha, pequeninha, ou pode vir o vento e apagá-la, sabe? Ou alguém pode apagá-la. Agora, meu amor por você é como o universo: infinito.

- E por que alguém apagaria essa chama?
- Eu não sei.
- Acho que não entendi, pai. Amar parece difícil...
- E é, pequena, e é...

Texto Original: AQUI

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

A atitude

Era uma manhã de muito calor. Algo em torno de 35 graus. Isso às seis da manhã. O trânsito daquela metrópole, como sempre, um caos. Ônibus lotados. Todos apressados. A correria não permitia nada além de breves olhares. Pedro não queria assunto. Olhava para todos com cara de "poucos amigos". Sentia o suor molhar suas roupas. Conseguiu entrar no segundo ônibus e sentar-se em uma das poltronas. Em pensamentos, praguejava o chefe, a mulher e aquele motorista. Sentia a força do seu ódio e só esperava a chance de exteriorizar sua fúria. Num determinado ponto, entrou um rapaz, que assim como Pedro e os outros estava apressado, com calor e aparentemente cansado. A única vaga para sentar era ao lado de Pedro, que fez questão de se espalhar.

O jovem pagou a passagem e se dirigiu até a vaga na poltrona. Ao sentar tocou levemente na perna de Pedro que prontamente reagiu: - Vai sentar no meu colo? - O jovem olhou surpreso. Todos olharam para a direção dos dois homens. Pedro esperou a resposta, já com a próxima atitude pensada. Passaram-se vários segundos. O jovem suspirou profundamente e por fim devolveu - Por favor, senhor, me desculpe. - A resposta causou surpresa em todos, especialmente em Pedro que ficou sem fala. Aquele ônibus seguiu seu rumo em um silêncio desafiador. Pedro viveu naquela manhã uma linda lição de que "a paz é possível". A decisão é nossa