sábado, novembro 19, 2011

Realidade

Sai do banho cabisbaixo, seca o corpo vagarosamente, ta entrando na academia agora, a atual aparência não lhe agrada mais. Veste-se, o jeans já gasto e a camiseta branca, sempre simples. Os pés descalços caminham até a cozinha, o café logo enche a cozinha com seu cheiro bom, ele sente o dia começando. 

Abre a porta e pega a edição diária do jornal, folheia distraidamente lendo uma notícia aqui e outra ali, a violência o assusta, ele vive se perguntando quando foi que o ser humano esqueceu o que realmente é ser um humano. Ele faz o que pode, separa o lixo, raramente come fora de casa, evitando assim o uso das embalagens de plástico das lanchonetes, não fuma e não bebe, tenta levar uma vida saudável, sempre ajuda ONGs com doações e contribuições seja financeira ou serviçal, doa livros velhos para a biblioteca da cidade e todas as noites tem sua seção de ciberativismo assinando abaixo assinados em instituições como o Greenpeace e outros. Faz o máximo que pode para ter a consciência limpa e poder dizer que ainda se mantém humano, mesmo tendo vergonha alheia do resto da população que se encontra alienada assistindo a rede "plim-plim" e deixando de pensar por conta própria para apenas pensar como a mídia quer. Uma lástima.

Está solteiro, muita gente diz que ele é difícil, que mudou, está diferente e mais auto-suficiente e que isso dificulta as coisas, mas ele pensa diferente. Mudou sim, amadureceu. Antes acreditava em amores platônicos, em juras de amor eterno, contos de fadas e no "felizes para sempre". Agora ele é realista, tem os pés no chão e deixou de ser aquele menino fácil de antigamente. Ele sempre se pergunta se foi a idade que fez isso ou se ele sempre foi assim e não soube dizer. O amor é uma montanha russa misturada com um trem fantasma, altos e baixos, monstros e bruxas, fantasmas que somem e reaparecem para atormentar no futuro, curvas demoradas adiando o fim das coisas, subidas intermináveis aonde o nervosismo e a ansiedade tomam conta e os nervos entram em colapso, descidas libertadoras com direito a frio na barriga e tudo, o amor é assim. 

No caso dele, no meio desses trilhos alguns parafusos soltaram e ele quase caiu do trem, por tempos tudo parou e o parque de diversões continuou sem ele, por vezes esperou que alguém viesse tirar ele daí, algumas pessoas apareceram, mas logo em seguida viraram assombrações e sumiram, agora ele simplesmente aprendeu a arrumar o seu caminho, sabe fazer a manutenção sozinho, mas é sempre bom ter alguém sentado ao lado, disso ele nunca duvidou.

domingo, novembro 13, 2011

Desabafo de Madrugada!

Deitado na cama olhava o teto perdido em pensamentos. Voltara com essa antiga mania. Mania que às vezes incomodava aqueles que falavam sem parar com ele até se dá conta de que na realidade ele não estava ouvindo. Estava em outro mundo. Não! Em outra galáxia. Cruzou os braços abaixo da cabeça e continuou nessa posição durante alguns minutos até sentir uma leve dormência. Somente o som do silêncio se era possível ouvir.

- Não posso! Eu... Eu não consigo. Quem me dera poder. Eu queria poder sabe, mas não consigo. Sim, eu já tentei... Mas... Mas é como se... 

O silencio finalmente fora quebrado. O som das palavras ainda ecoava pelo quarto. Um som triste, angustiante. Seus olhos marejaram. Seja por qual mundo ele estava naquele momento, a cena que se passava dentro de sua mente não era uma das mais perfeitas. Mudou de posição. Virou o rosto e olhou para o lado. Seus olhos bateram imediatamente em um recente livro que comprara e nem o lera ainda: “O Enigma”. Era assim que sua vida se resumia... Em um grande e estafante enigma de todas as coisas. Como um código que jamais pudesse ser descoberto. Estava farto disso tudo. Estava farto de ser o menino bonzinho. Estava farto dessa hipocrisia sem fim que o rodeava. Estava farto das pessoas. Estava farto do amor.

- Droga! Será que você não entende? Será que é tão difícil assim? ... Então me diz... Como... Como... É só o que te peço... Como...? 

Falava como se ao seu lado houvesse outra pessoa com quem dialogava. Como se alguém o ouvisse e respondesse. Alguém que não existia ou ao menos que não pudéssemos ver. Sempre lhe disseram que nunca estava sozinho. Talvez naquele momento realmente não estivesse. Quem vai saber? Cerrou os olhos fazendo com que uma singela lágrima escorresse por seu rosto e fosse repousar no canto da boca. Era impossível saber o que se passava dentro daquela mente. Impossível penetrar suas defesas e investigar seus pensamentos. E nem nos cabe tal audácia. Depois do que pareceu uma hora ele voltou a abrir os olhos, levantou, apanhou um lápis e o seu caderno de anotações e pôs-se a escrever:
Você pode ir embora e nunca mais ser o mesmo. Você pode voltar e nada ser como antes. Você pode até ficar, pra que nada mude, mas aí é você que não vai se conformar com isso. Você pode sofrer por perder alguém. Você pode até lembrar com carinho ou orgulho de algum momento importante na sua vida: formatura, casamento, aprovação no vestibular ou a festa mais linda que já tenha ido.
Mas o que vai te fazer falta mesmo, o que vai doer bem fundo, é a saudade dos momentos simples: da sua mãe te chamando pra acordar, do seu pai te levando pela mão, dos desenhos animados com seu irmão ou irmã, do caminho pra casa com os amigos e a diversão natural, do cheiro que você sentia naquele abraço, da hora certinha em que ele sempre aparecia pra te ver, e como ele te olhava com aquela cara de coitado pra te derreter.
De qualquer forma, não se esqueça das seguintes verdades: Não faça nada que não te deixe em paz consigo mesmo; Cuidado com o que anda desabafando; Conte até três (tá certo, se precisar, conte mais); Antes só do que muito acompanhado; Esperar não significa inércia, muito menos desinteresse; Renunciar não quer dizer que não ame; Abrir mão não quer dizer que não queira.
O tempo ensina, mas não cura.
Colocou a caneta de lado e releu o que havia escrito. Havia resumido de forma única muitos assuntos de sua vida. Assuntos que só diziam respeito a ele. Sorriu. Agora se sentia melhor. Escrever sempre o libertava do peso que insistia em aparecer. Mas naquele dia, sentia que havia algo mais. Algo que seus olhos ainda escapavam. Fechou o caderno e foi dormir em paz ainda com as palavras escritas outrora na mente:

... Esperar não significa inércia, muito menos desinteresse; Renunciar não quer dizer que não ame; Abrir mão não quer dizer que não queira. O tempo ensina, mas não cura.