sábado, abril 02, 2011

O que fazer do meu amor?

- Cuidado com a terra, Marina. - Disse Erica num tom calmo, olhando para a prima brincando no parque. Da última vez que ela foi levar sua prima ao parque, as coisas não foram bem como ela tinha planejado. Era melhor tomar mais cuidado dessa vez. Depois de observar a menina se afastar correndo até a mãe dela, resolveu caminhar pela praça. Era uma pracinha, a única naquela cidadezinha, mas era o suficiente para se sair um pouco da rotina, pelo menos. Erica caminhou com calma por todas aquelas crianças felizes. Ela reconhecia aquela felicidade, mas hoje era como se fosse algo distante, impossível de ser alcançado. Ela havia endurecido um pouco. De uma maneira que para ela era positiva. Perdera aquela excentricidade característica da adolescência. Agora, se comportava como uma mulher séria, aparentando ser bem mais velha do que de fato era. Sentou-se num banco marrom, passou as mãos pelos cabelos e ficou olhando ao redor, admirando todas aquelas crianças. Era realmente louca por crianças. 

- Erica? - E seu coração parou. Ela pôde jurar que ele fazia o caminho inverso, agora estava se dirigindo a sua boca. A respiração não saiu. O transe foi tão completo que ela quase se deslocou de onde estava mentalmente. Não podia acreditar no que escutava. Naquela voz. Sem respeitar a sua surpresa, o homem sentou-se ao seu lado. Ela respirou fundo e o encarou. Fria. Fria como tinha aprendido a ser. Encarou aqueles olhos apenas para se certificar que continuavam tão belos quanto antes. Deixou que um sorriso falsamente simpático escapasse. 

- Oi, Alex. Quanto tempo! - E a cada segundo parecia uma eternidade, como se ele sugasse sua energia vital e agora ela mal conseguia desviar os olhos dos dele. Como se quisesse se afogar e morrer naquele olhos, novamente. 

- Não acreditei quando te vi aqui. Sabe, você sempre foi tão talentosa, achei que você daria um jeito de sair dessa cidade. - Ele falou de uma maneira tranqüila, como se fossem velhos amigos, e isso foi o que mais a machucou. Machucou até seu último fio de cabelo. 

- É... As coisas não foram tão fáceis. E você, como está na Espanha? - Cada palavra parecia um corte. Ela se esforçava cada vez mais para não desabar e chorar, como sempre fez. Como conseguia tratar da viagem dele com tanta naturalidade? Nem ela sabia. Existem coisas que o sofrimento faz por nós, que não conseguimos entender. 

- Ah, tá tudo certo. Estou terminando meu curso por lá, não sei qual será meu próximo destino. Provavelmente irei continuar trabalhando por lá. - Ele deu uma pequena pausa, mas que não passou despercebida - Você continua linda! Quais as novidades? - E então ela desviou o olhar. Fitou um ponto fixo na sua frente, repetindo para si mesma que se aquietasse. Como ele poderia ter esquecido tudo? Como as coisas se apagaram assim tão rápido da sua memória? Ele falava com ela de uma maneira tão cínica, que ela quase teve vontade de vomitar. 

- Obrigada... Ah... Não tenho novidades não. Continua tudo a mesma coisa. Só Caroline que está noiva - "Era para ser eu, mas não é por sua culpa", pensou. Mas jamais diria. Com o tempo, aprendeu também a ser contida. Pensava muito antes de falar as coisas, antes de se permitir agir. E tudo o que ele tinha lhe falado, que seria difícil sem ela, que estava fazendo isso por seu futuro, sua vida. Que nunca a esqueceria. Tudo passou na sua mente como um filme, como se estivesse prestes a morrer. Mas o filme passou tarde, por dentro ela já havia morrido há muito tempo. Se hoje seguia em frente e era uma ótima profissional, era exclusivamente por suas prioridades e planos. 

- Ah... que novidade maravilhosa. Espero que ela esteja feliz. Bom... Eu já estou de partida, tive que vir visitar meus pais, meu avô, ele... - Ambos escutaram uma voz feminina o chamando. Ela se virou para o lado, e deu de cara com uma mulher alta, loira, bonita e...grávida. Seus olhos se cruzaram e ela pôde sentir uma ponta de inveja. Era para ser ela, ela sempre soube disso. Que era pra eles terem ficado juntos. Mas existem coisas horríveis na vida que somos obrigados a aceitar, e então nos consolamos, dizemos que é destino. Esperamos que isso diminua nossa dor um pouco que seja. Mas adivinhem? Não diminui. O tempo não nos faz superar, nos faz aceitar. Existem coisas como amores perdidos que funcionam assim. 

- Er... acho que eu preciso ir, Etty. Foi bom te encontrar.- E então ele lhe deu um beijo na buchecha que foi quase uma agressão contra a história deles. De tantos beijos na boca e abraços sinceros. E foi isso que ela sentiu. Mais uma vez, ela se viu dando adeus ao amor da sua vida. Mais uma vez, seu coração foi partido em vários pedaços. Mais uma vez, achou que fosse desabar, se esfacelar, e mais uma vez, suportou. Incapaz de falar, apenas fez que sim com a cabeça e sorriu, se levantando e andando rápido na direção contrária deles. Não precisava ver aquela cena de novo. Erica caminhou até sua prima. Falou alguma coisa com a mãe de sua prima e foi caminhando para casa. Alex caminhou até sua mulher e lhe deu um beijo na bochecha, então olhou para o lado com o olhar mais triste do mundo. Ela tinha ido embora. E sequer tinha sido capaz de perceber o tamanho do amor que ele ainda sentira. Talvez tenha sido melhor ela não perceber, ele pensou. 

- Mi cariño, Me gustaria haber conocido tu abuelo. Ah, y creo que estoy empezando a gustar del nombre de nuestra niña. Tu estas correcto, Erica es un nombre muy lindo.(1) - Um sorriso quase triste surgiu na face de Alex, e então ele passou a mão pelo corpo da esposa e começou a andar, falando baixo enquanto olhava para frente. - Você tem razão. Erica é o nome mais lindo do mundo. 

(1) Tradução: Meu carinho, eu gostaria de ter conhecido seu avô. Ah... acho que estou começando a gostar do nome de nossa filha. Você está certo, Erica é um nome muito lindo.

TExto Original: AQUI