terça-feira, janeiro 04, 2011

Perseverança

Quanto mais se ama
Mais o mundo fica complexo
Ou o amor que o transforma assim?

Somos seres, seres humanos
E não escapamos desta simples
Benção ou maldição
Amor.

Quando descobrimos o ser amado
Nos transportamos para o mais alto dos montes

Quando descobrimos o que é o amor
Passamos a estar em nuvens

Quando ouvimos, "eu te amo"
Ah... não existe semelhante sensação a esta.

E quando estamos lá
Lá no mais altos dos montes
Quando estamos mais extasiados
Alguém ou algum ser quebra o encanto
Fazendo-nos cair dos montes
A sentir emoção pior ao ódio
Sentir tristeza, sentir que nos foi roubado o nosso propósito

Mas eu aprendi
Aprendi que nem tudo é o que parece
Aprendi que realmente as aparências enganam
Ensino a quem quiser aprender
Nunca desista de seus sonhos
De seus amores
O encanto nunca é quebrado
Apenas é feio uma ilusão

Persevere

Se necessário, espere
Se no seu momento
Não tem o que deseja
Não possui o seu amor
Não desanime
Que no momento correto o terá
Demore o tempo que for
Você o terá

E assim,
Como uma mágica
Quando menos se espera
Você olha para o lado
E lá estará ele, seu amor
A estender-lhe os braços
Lá estará ele
Seu eterno admirador.

Divagações de viagem

Havia um jornal esquecido sobre um banco na estação. Acho que eram cinco ou seis da tarde. Um vento fresco e agradável soprava com força, causando-me uma sensação maravilhosa de conforto e liberdade. Para mim é sempre maravilhoso desfrutar do frescor da estação. Por isso eu nunca tenho pressa para que o trem chegue. Enquanto estou na estação posso observar os pássaros, os pombos que se aninham nas vigas e refletir sobre a liberdade, essa liberdade-escravidão, porque ao mesmo tempo liberta e aprisiona. Pois se por um lado as aves voam para onde querem, por outro nunca têm um lugar certo para dormir, não têm outra escolha senão passar a noite ao relento. Elas estão sempre presas às sua própria liberdade. Por isso às vezes eu prefiro ser cativo. Prefiro a segurança de não poder voar.

O trem chegou. Olhei para um lado e para o outro para ver se o dono do jornal apareceria e como ninguém se manifestou, eu o peguei e embarquei. Naquele horário não havia muitas pessoas no metrô. Assim, escolhi um lugar na parte de trás do vagão e sentei junto à janela. Assim que o trem entrou em movimento, minha mente pareceu ter feito o mesmo. Observei o mundo a se mover lá do lado de fora e senti o movimento e as vibrações agitarem meu corpo. Pus-me então a pensar na vida. Foi por isso que eu escolhi aquele lugar do vagão. Era um lugar em que eu podia ficar sozinho para pensar, sem ninguém para me distrair, sem ninguém para interromper meus pensamentos. Eu estava triste, meu peito doía por dentro. Queria pensar em algo que me fizesse esquecer meus problemas. Ou talvez apenas observar as pessoas, tentar descobrir o que estão sentindo apenas lendo seus gestos e seu comportamento. Gosto de tentar ler as mensagens que seu comportamento transmite.

O vagão estava quase vazio. Havia apenas seis pessoas. Uma moça sentada sozinha, aparentemente triste, com a cabeça recostada sobre o vidro da janela; um jovem casal de filhos, a mulher com a cabeça repousando sobre o ombro do homem, o homem parecendo um tanto indiferente à mulher; dois rapazes, aparentemente amigos, conversando sobre assuntos banais lá na parte da frente; e um homem aparentemente nos seus trinta e cinco anos, sentado sozinho, segurando uma sacola de frutas entre as pernas. Como não encontrei nada de interessante naquelas pessoas, decidi voltar meus olhos para o mundo lá fora, o mundo que se movia diante dos meus olhos. 

Chegamos à estação seguinte e quando as portas se abriram, outras pessoas embarcaram. Uma senhora pequena e magra, aparentando seus sessenta e poucos anos, veio e se sentou também na parte detrás do vagão, mas no lado oposto ao meu. Tinha um sorriso permanente, como se dormisse e acordasse sempre sorrindo. Parecia ser uma mulher muito simpática. Seu ar meigo me fazia lembrar a minha avó, que faleceu há poucos anos. Fez me sentir saudades dela. Pobre velinha... Não pude deixar de observá-la, mas logo que percebi que também olhava para mim, voltei os meus olhos para o jornal que eu tinha nas mãos. Não queria que ela tivesse algum motivo para iniciar uma conversa comigo. Não gosto de conversar. Não queria conversar com ninguém naquele momento. Queria apenas ficar só com os meus pensamentos. 

Na estação seguinte mais pessoas entraram no trem. A velhinha saiu então de onde estava e veio sentar-se ao meu lado. "Oh, não!", pensei. "Por que ela simplesmente não fica onde estava!?". Continuei agindo como se não houvesse mais ninguém ali. Ela também ficou em silêncio por um tempo, mas olhava insistentemente para o jornal que eu estava lendo. O ar sorridente não saía de seu rosto. A mulher irradiava alegria e serenidade. Ela então me ofereceu um doce, que eu gentilmente recusei. Depois se manteve em silêncio por mais uns dois minutos, mas logo em seguida voltou a falar. A princípio eu me senti incomodado com a presença daquela mulher. Mas depois de algum tempo comecei a prestar atenção às suas palavras e por fim acabei me interessando pelo que ela dizia.

- Vê aquela família ali na frente? O menino parece querer falar, mas seus pais não lhe dão a menor atenção. Faz um bom tempo que estão conversando sobre suas coisas bobas de adultos e não percebe que o menino pode ter algo grandioso para dizer, algo que talvez supere toda a sabedoria dos adultos. Mas o que aconteceria se esses adultos então parassem e resolvessem escutar o que o menino tem a dizer, e descobrissem a magia das coisas, os grandes segredos que só as crianças conhecem? Não, isso jamais acontecerá... Bobagem

Lembrei-me de quando eu era criança. Eu podia ouvir a voz dos pássaros. Podia compreender as vozes da natureza. Podia entender o sentido de coisas que hoje eu não compreendo. Tudo que aquela senhora dizia fazia muito sentido. E o que ela dizia me fazia sentir muito feliz. Ela, no entanto, parecia nem se importar se eu estava prestando atenção ou não, como se não falasse comigo, mas consigo mesma.

- Está vendo o sol se pondo lá no horizonte? O ocaso é muito bonito, não é mesmo? Mas é também triste... Parece que o sol está morrendo lentamente, sendo sugado pouco a pouco pelo horizonte assassino, até desaparecer por completo. O céu, por sua vez, parece se consternar pela morte do sol e então se cobre de luto. O negror da noite parece o luto pela morte do sol. Parece a tristeza do céu pelo sol que se foi. O que me conforta, no entanto, é saber que o sol não morre. Ele está vivo lá do outro lado do mundo. Ele está iluminando o céu de outro lugar. O sol não morre, porque a morte não existe. As pessoas também não morrem. Assim como sol, os que partiram deste mundo estão brilhando lá nossos pensamentos, na nossa imaginação, nos momentos que recriamos na nossa mente os fatos que passamos juntos com aqueles que já se foram, isso pode ser considerado como lá do outro lado da vida. È por isso que eu gosto do ocaso. Porque sempre que eu vejo o ocaso eu me lembro de que não existe a morte. Não quando aqueles que já se foram estão em nossos corações, pensamentos e imaginação.

Como eu queria ter anotado tudo aquilo que ela disse! Cheguei a pegar um pedaço de papel e uma caneta para tentar escrever. Não consegui escrever nada. O balanço do trem não me deixou escrever. Assim é a minha vida, cheia de turbulências, cheia de solavancos, que me impedem de escrever as linhas da minha história em linhas perfeitas, precisas, com letras bonitas e bem desenhadas... Minhas linhas saem tortas, como as linhas que comecei a traçar naquele pedaço de papel. Desisti de escrever. Chegou à estação terminal. A viagem foi rápida demais. Queria ouvir um pouco mais aquela velinha. Mas ela já se preparava para se levantar. Antes de sair ela apontou para o jornal que estava na minha mão e disse "Muito obrigada por me ouvir, rapaz. Eu estava precisando muito de alguém para conversar. Você me lembra muito o meu neto, esse rapaz que está aí na foto no seu jornal."

Quando ela se foi, eu olhei para o jornal e vi na primeira página a foto do neto daquela mulher. A matéria dizia que ele havia sido assassinado por bandidos havia poucos dias... Aprendi que sábias são pessoas como aquela senhora, que sabem sorrir mesmo em meio à dor e ao sofrimento. Pessoas que não sentem pena de si mesmas, que não culpam os olhos por seus problemas. Sábias são pessoas como ela, que mesmo depois de uma grande tragédia conseguem enxergar a beleza das coisas. Desci do trem, deixei aquele jornal sobre um banco qualquer na estação e segui meu caminho, pensando nas palavras daquela velha senhora e tentando ouvir a voz de minha própria alma.

sábado, janeiro 01, 2011

A Cura

Clarice acordou triste. Dormiu com soluços e lágrimas e amanheceu com uma vontade de não se levantar da cama. Porque afinal amanheceu, porque insiste em seguir seu curso? O sol irritantemente brilha no lado de fora da janela e Clarice sente náusea. Está cansada, a luta não lhe parece justa, as armas são distribuídas de forma desigual.

Clarice sentiu vontade de chorar de novo, de correr para longe, nem ela mesma sabe para onde. Queria fugir pra longe nem sabia de que, para longe dela mesma. Não sabe nem mesmo o que está sentindo, só queria que a angústia passasse. Tem tudo medo, tem tido dúvidas que não queria ter, tem pensado coisas que não queria, tem tido sentimentos que nem sabia que existia. De onde vem essa sensação de vazio, de que tudo está mais difícil do que é e mais complicado do que se mostra? De onde vem essa sensação de que tudo está perdido, essa desesperança, essa falta de tudo?

Clarice se levanta, olha de novo o sol, levanta-se com muito custo. Veste uma roupa sem se preocupar com o que está vestindo e sai desanimada. O dia está igual a todos os outros dias. Não há flores novas e nem cores diferentes. Nada além da vida de sempre. Clarice vê seu ônibus, dá sinal e senta-se com má vontade. 

- Dia difícil? - Ela se vira com uma ponta de raiva pela intromissão. A seu lado, um rapaz, com olhos de madeira, pele clara e rosto redondo sorri sem jeito. - O meu tem sido ruim também. Aliás, a semana não foi nada boa. Eu me chamo Ângelo. - Clarice pensou em não responder, mas de repente parou a olhar aqueles olhos. Era como se eles sempre fizessem parte da sua vida, como fossem velhos amigos. A única coisa que conseguiu fazer foi sorrir. Ângelo continuava a olhar Clarice. Sua pele morena, seus olhos verdes e olhar triste. Sentia vontade de colocá-la no colo, não sabia bem o porquê. Parecia uma menina indefesa. Continuou a conversa sem saber como fazer. 

- Você pega sempre esse ônibus? Qual é mesmo o seu nome?

- Clarice. Sim, pego o ônibus todos os dias para trabalhar. O meu dia começou ruim também, aliás, ontem já foi ruim e nem mesmo sei o porquê. A vida não tem tido graça.

- De repente a gente que se esqueceu de achar graça na vida! Bom, desço daqui a dois pontos. Eu trabalho em uma loja de flores aqui perto, brinco que vendo mais que flores, vendo sonhos. Aqui está meu cartão, se precisar. De repente podíamos tomar um café no fim do dia. Bom... Até um dia.

O dia passou como todos os dias passam, mas não como todos os dias para Clarice. Esse correu entre os pensamentos dela, voou nos olhos cor de madeira. De repente Clarice parou o ônibus fora de seu ponto habitual. Desceu, virou a rua e entrou em uma pequena porta. Foi recebida com um sorriso. 

- Pois não, posso ajudar?

- Sim, estou precisando de alguns sonhos, podem ser vermelhos, e a propósito, o café está esfriando no Café da esquina.

- Claro senhorita, um sonho novo sempre é bom. Fecho as portas em dois minutos.

Assim Clarice saiu com seus sonhos e seus dias deixaram de ser iguais. Havia medos, mas havia coragem, havia dúvidas, mas também havia muitas certezas. O amor transforma o mundo e definitivamente, a vida inteira.