terça-feira, junho 28, 2011

Inocência

Ela se olha no espelho há exatamente uma hora, os dedos longos tocam cada linha do rosto desenhando as feições que ela conhece bem há quase 21 anos, tenta forçar um sorriso, nada... Soa falso, está aí o motivo pelo qual você raramente vai achar uma fotografia aonde ela apareça sorrindo intencionalmente, sempre soa falso, sorriso totalmente forçado. Ela acha feio. As poucas fotos esboçando esse tipo de alegria foram tiradas de surpresa e são dessas que as pessoas gostam, dizem que ela sorri bonito, que devia fazer isso mais vezes, mas é que realmente às vezes não é tão fácil assim sorrir.

Sempre achou que essas pessoas que vivem felizes, que parecem ter saído de um desses comerciais de margarina aonde a família toda toma seu café da manhã sorrindo cheio de amor para dar como se tudo no mundo fosse perfeito na realidade são mentirosos. Porque tudo tem prazo de validade na vida, tudo tem começo, meio e fim, inclusive a felicidade. Até porque a própria vida tem um fim, a única certeza que se tem é a morte, o resto é incerto.

Tira toda a roupa e entra no banho, a água quente soltando vapor em espirais que ela observa, absorta em pensamentos e lembranças. Quando era criança desenhava coisas no Box do banheiro aproveitando o vidro embaçado, era o seu divertimento, desenhar, escrever e depois jogar toda a água fora que podia até apagar tudo aquilo para logo em seguida começar novos desenhos enquanto a mãe lhe lavava o corpo. A infância é sempre uma das etapas mais saudosas da vida, por mais sofridas que venha a ser, a inocência infantil é algo irrecuperável depois de longos anos, aquela criança que corria atrás dos pássaros na praça tentando alcançá-los conforme eles voavam, a criança que desenhava seu nome na beira da praia só pra ver as ondas apagando tudo e em seguida começar de novo, a criança que sempre encontrava algo de mágico no mundo, por mais trágico que esse mundo fosse lá fora, ali aos olhos dela, era tudo novo e lindo... E agora, aos 21, ela escreve seu nome em letras grandes com o dedo molhado... Tem como recomeçar tudo de novo se o nome se apagar do vidro? Acho que não, a inocência e o mundo mágico se foram, agora é realidade nua e crua.

domingo, junho 26, 2011

Me diz...

Me diz, porque que o peito dói tanto hoje? Me explica porque a gente sofre a toa por aí e não se valoriza dizendo pro mundo "me ame quem quiser, minha auto-suficiência é real". Porque a gente se faz forte, de incrivelmente feliz, quando na realidade lá dentro o nosso mundo está aos cacos, o coração pulsa aos trancos e barrancos e tudo que você queria era que alguém totalmente sincero te estendesse a mão ou fizesse um afago, passasse a mão de leve na sua cabeça confusa e pesada e, ao estender os dedos, chegasse a tocar seu coração e te desse um bom motivo pra continuar sorrindo todas as manhãs quando você se vê no espelho.

Enche o saco ser solitário por tempo indeterminado, enche o saco ver o coração ir murchando e você ir se tornando um típico "coração gelado", se tornando inatingível para qualquer um, se fechando pra toda e qualquer emoção real com medo de acabar se entregando e caindo num abismo sem fim, tendo uma queda mortal e dolorosa. A queda extrema é o fim de tudo, é a depressão sentimental e o fechamento de um mundo colorido dentro de um baú, deixando que o mofo tome conta e as traças acabem com tudo, eventualmente.

Irrita também você supervalorizar os amigos e as pessoas próximas mesmo quando você já tem alguém no peito tornando tudo colorido e quando as coisas se invertem e eles acabam arranjando alguém e você se torna só, eles mudam. Namorar é ótimo, mas tenha em mente que namoros acabam, amizades deviam durar mais do que simples namoros... Quem vai te segurar e te fazer parar de chorar quando a primeira briga com o namorado ou namorada chegar? Eu? Não sei não hein... Só digo isso. Valorize quem sempre teve você como prioridade, não torne opção, descartável, ordinário e frívolo.

Me diz, será que é tão difícil assim ser feliz? Me explica porque a felicidade às vezes parece como o vento: ele existe, você até o sente, mas nunca consegue tê-lo de verdade. Como se sua procura, sua busca fosse sempre em vão. Chega até ser irônico. Enche o saco, de fato, todas essas coisas. Talvez um dia melhore, talvez não. Talvez nunca saiba. Enfim... São só pensamentos, idéias. Mas é como disse certa vez uma escritora:

"Acho tudo um grande porre. Um grandessíssimo porre."