domingo, julho 24, 2011

Rodizio

Acho que o nosso erro às vezes é tratar o amor como um grande rodízio, é... Bem pizzaria mesmo! Você bota o seu coração na bandeja e sai servindo, alguns degustam e não pedem mais. Ah... Tudo bem não faz diferença. Outros pegam porções maiores e você acaba sentindo falta, mas passa, tudo se recompõe. Uma nova rodada! Mas certas pessoas levam tudo, devoram, destroem... E acaba tudo. O que te sobra é a bandeja vazia. O peito vazio, aquele buraco nojento e feio. É triste.

Mas o nosso erro é oferecer o coração assim sem ter a certeza de que vai valer à pena. É chegar com a bandeja em pessoas que não conhecemos inteiramente, ou que até conhecemos, mas não temos a certeza de que realmente vai durar, chegar nelas com o coração na bandeja e falar: "Quer experimentar? Vai mais um pedaço?" Isso é paixão. Não se oferece o coração na paixão. Já o amor não. Nosso amor não é para degustação momentânea, não é canapé, não é doce pra comer depois da janta. Nosso amor é a grande refeição, a Santa Ceia, é o que se tem de mais saboroso na vida.

O que é triste é quando tudo o que dizem sobre ele, pra você... Não passam de palavras. É triste quando as atitudes que tomam a seu respeito não alcançam o que os lábios pronunciam, triste quando os olhos continuam negros mesmo quando a boca esboça um sorriso, e mais ainda, é triste quando a mão que está estendida te oferecendo ajuda, na realidade só quer ter degustar naquele momento e ir pro prato principal em outro lugar qualquer.

Valorizemo-nos!

Conheçamos muito bem as pessoas a nossa volta. Não nos ofereçamos de bandeja sempre que alguém interessante aparecer. Guardemo-nos para quem realmente nos quer, pra quem realmente vê o nosso real valor. As tristezas e desavenças vida afora a gente guarda na lembrança e usa como lição. E, que fique claro, ninguém nunca morreu de amor e, por mais que seja difícil acreditar em certa altura, tem sempre alguém feito sob medida pra gente. É só abrir os olhos e esperar. A hora chega!

sexta-feira, julho 15, 2011

Definitivo

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Autor: Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, julho 12, 2011

Uma mensagem para você!

Ele anda de um lado ao outro. Aflito. Já faz um tempo que essa vontade insana habita dentro do seu peito. Como uma bola de neve que começa a rolar do alto da montanha e à medida que desce vai crescendo e crescendo. O telefone descansa sobre a mesa da sala. E o olha uma vez e outra vez. Sabia que se não fizesse naquele momento, não iria ter força para fazer em outro. Mas e se... Se desse tudo errado? Se não entendessem? Ah... Que se dane! Ele caminha decidido, apanha o telefone e disca alguns números. Alguns toques e nada. Logo ouve um bip. A secretária eletrônica. E agora? O que fazer? Abre a boca para falar, mas perde a coragem e desliga bruscamente. Não! Não podia simplesmente deixar uma mensagem. O que diria? Como diria? Teria esse direito? Olhou novamente para o telefone. Inspirou profundamente e discou os números novamente. A secretária de novo. Fechou os olhos por um momento. Era agora ou nunca. Abriu a boca e permitiu que as palavras viessem de dentro de si:
- “Não deleta isso, tenho muitas coisas para contar, coisas que eu preciso te falar agora porque depois eu não vou conseguir. Só me escuta, tá? No final disso tudo você me manda sumir ou me fala alguma palavra de consolo triste para que eu fique bem e consiga continuar com a minha vida sem você. Pode até deletar essa mensagem sem me mandar resposta alguma, eu vou tentar entender isso tudo, prometo. Olha, eu te amo. Lembra quando o encanto começou? A gente só conversava sobre coisas um pouco inúteis, nada demais, e do nada eu comecei a ver em você algo a mais, comecei a ver uma pessoa que me atraía fisicamente, que me encantava com um simples sorriso, e eu tive medo, confesso. Medo de perder o que eu sequer havia conquistado, medo de perder aquele sorriso para sempre, de nada ali ser correspondido e eu sair sem sorriso, sem amor e nem amizade.”
Silencio.
- “Acontece que foi tudo muito bom, lembra da vergonha que sentimos? Cada gesto... Quem diria que tais gestos nos levariam algum tempo depois às declarações como esta dita no meio da madrugada ao telefone, não é? Não me arrependo de nada, talvez me arrependa de não ter te amado mais. De não ter esperado mais. De ter agido desesperadamente, de forma tão afobada. Mas... quem sabe... tudo acontece como tem de ser... vai ver não era a nossa hora. Espera! Logo eu termino, eu juro, não desliga. Eu tenho medo de que, se eu sumir por uns tempos você não vá sentir saudades, medo de que outra pessoa ocupe esse posto especial que eu tenho no seu peito e eu passe a ser mais uma foto no seu álbum de recordações, medo que a minha foto na sua carteira fique sem cor, envelheça e você nem lembre mais do motivo dela estar ali. Tenho vontade de sentir o teu corpo encaixando perfeitamente no meu abraço, de poder olhar nos teus olhos e simplesmente sorrir e ver toda a sua beleza estampada ali na minha frente como foi há tempos atrás. Vontade de sentir o toque da sua mão no meu rosto e poder fechar os olhos por instantes sabendo que não é apenas um sonho, de encostar minha boca na tua e sentir todo esse calor acumulado de tantos meses longe, sentir o gosto do teu beijo e ter a certeza de que tudo, tudo vale a pena.”
Silêncio. Um ruído. Parece que ele havia chorado. Momentos depois novamente começa a falar.
- “Eu tenho vontade de você. Eu sempre tive e sempre terei essa vontade insana de ter você. Não percebeu que, em matéria de amor verdadeiro, é só você? O resto é como um resfriado bobo que dá e passa depois de um tempo. Como um ferro em brasa você marcou o meu peito para sempre, nada e nem ninguém vai apagar você de mim, é impossível. Ta aí, eu disse tudo do modo mais simples possível. Garanto ser a mensagem mais longa que você ouviu após o BIP, certo? Bom... se cuida, tá? Por mim, por você... por tudo que foi nosso um dia... o mundo foi nosso um dia, não esquece disso. Tchau.”
Ele desliga. Seu coração se sentiu um pouco mais leve. Há muito vem tentando verbalizar isso. As lágrimas ainda podem ser vistas em seu rosto. É estranho como as coisas acontecem. Estranho como o mundo gira. Ah... Se pudesse fazer o mundo girar e trazer você de volta! “O mundo foi nosso um dia, não esquece disso” Murmurou com a cabeça na almofada do sofá e dormiu.

quarta-feira, julho 06, 2011

Não vai ser pra sempre

Você disse que me quer para sempre... Como assim? Alguém aqui tem bola de cristal para prever uma alegria que dure tudo isso? Calma. Sentimentos são passageiros, duram dias, semanas, anos... Décadas e assim em diante. Mas tudo que começa um dia termina, é como um ciclo natural como nascimento, vida e morte. Me entende? 

Minha racionalidade não diminui meus sentimentos, não mesmo. Te amo muito, sempre lhe digo isso, a diferença é que eu não acredito mais em contos de fadas, eu cresci. Me sinto mais firme, já vivenciei muitas coisas e é daí que vem a minha noção de que tudo um dia encontra seu fim. 

Já amei algumas pessoas, uma ou duas eu quis ter pra sempre, acredite. Mas o "pra sempre" acabou, durou pouco tempo. Amizades que eu achei que levaria para a minha vida adulta sumiram por brigas tolas e infantis. Até alguns familiares sumiram, não tenho notícias. Eu aprendi a me manter intacto, sofro, não minto, quando algo ruim me acontece e quando perco pessoas de que gosto, mas isso tudo passa. Deixei pedaços meus no passado, no coração de pessoas que amei e trouxe pedaços avulsos delas comigo. Sou feito de recordações, boas e ruins, me constroem. 

Quero ter muitas recordações contigo, do passado, do presente e de um bom futuro. Não vai durar pra sempre, tenha isso em mente, mas saiba também que será inesquecível, dure o tempo que for. Seremos únicos. Você já carrega um pedaço meu contigo, assim como eu trago o seu comigo e assim vamos montando uma colcha de retalhos incrivelmente linda chamada vida. 

Sua colcha é quem você é. São as suas lembranças da família, da infância, do colégio e dos amigos, dos namoros passados e das paixões passageiras, daquela sua viagem, daquele porre que você tomou semanas atrás, daquele filme que você ama de paixão, daquela sua coleção de CD's e livros e até das suas roupas descoladas. Tudo isso é uma grande colcha multicolorida que você carrega e se cobre todos os dias, me entende? 

A vida traz surpresas escondidas em caixas bem enfeitadas, convite ao desconhecido. Um dia abriremos caixas diferentes, simples assim. O que me importa é a sua felicidade e a minha também, mesmo que isso signifique não ter mais a sua colcha para cobrir meu corpo todas as noites.

domingo, julho 03, 2011

Obrigado

A casa estava fechada há anos, cheirava a mofo e havia poeira por todos os cantos, eu a havia abandonado. Agora a primavera chegou, você entrou pela porta da frente com a chave que eu te dei e saiu abrindo cortinas e janelas, deixando o ar da manhã entrar aos poucos, a luz do sol refletir nos móveis antigos e gastos, você foi tomando conta e hoje tudo naquela casa brilha, tem perfume de rosas no ar e tudo é novo, é como se você fosse reformando aos poucos o cenário velho que eu estava acostumado a ver.

Essa casa é secreta, eu a construí no alto da colina e a travessia até lá é muito difícil, é como um teste de resistência pra ver quem realmente merece ter a chave da porta da frente, essa casa é o meu coração. Ele vive lá no alto, fora de alcance. Não sei se você é alpinista, atleta ou qualquer outra coisa, só sei que aos poucos você escalou essa muralha que eu construí pra me defender, pra não me machucar, minha defesa natural contra as desventuras que o amor apresenta feito espinhos de rosas que machucam a carne... Você venceu todas as barreiras que eu te apresentei e hoje a casa da colina tem flores nos canteiros, música suave saindo da vitrola, cortinas brancas esvoaçando pelas janelas abertas e cheirinho de café fresco no ar, é a tua moradia, é lá que eu te encontro todos os dias e vejo fotos nossas na parede e bilhetinhos de amor no mural ao lado da porta, é lá que eu me enrolo no teu corpo sob os lençóis todas as noites e te encho de beijos pela manhã. É meu novo paraíso.

Você é o meu paraíso, anjo que veio me ensinar muitas coisas e me mostrar que, amor verdadeiro, de fato ainda existe. E por isso tudo eu agradeço, obrigado por ser uma pessoa assim tão maravilhosa.