quinta-feira, março 08, 2012

Guardar-se


Em mim moram sonhos que ainda nem sei. Descubro-me todos os dias, e sem querer, cobro mais da vida, mais das pessoas, e muito mais de mim. 

Por trás de um coração descompassado existe uma sensibilidade escondida, retida e travada. É que depois de alguns arranhões por lá, parece que a gente vai se endurecendo por todos os lados. E às vezes, até por dentro. 

Talvez eu ainda não consiga ser por fora, o que sou em essência. São sentimentos que, de tão bonitos, os deixo guardados. Só para mim. Medo. Talvez. Pode ser. E fico me perguntando: será que estou me protegendo de mais um tombo, ou de ser feliz? É apenas mais uma interrogação que vou deixar nas mãos do destino. Se é que ele existe.

Sei que fiz escolhas e cresci com elas. Se foram as certas ou não, o tempo dirá. Crescerei em dobro, e tô pagando para ver. Afinal, esse órgão bobo e por vezes irritante ainda pulsa, resta fôlego. Ainda está bem aqui, guardado. E o sentimento que guardo, pode apostar, é puro, singelo e ao mesmo tempo intenso. Que acredita que um dia talvez, ainda poderá deixar de se esconder, quem sabe. Não é impossível porque onde há amor, há jeito.

segunda-feira, março 05, 2012

Metamorfose

Chega a ser engraçado essa coisa de viver. Há tantas e tantas mudanças. Um dia a gente pensa de um jeito, no outro, tudo muda. Tem doce que a gente gosta, gosta, mas depois abusa. Tem pessoas que a gente dá até a vida por elas e, de repente, elas já não valem tanto assim. Tem caminhos que parecem ser o certo, e depois nos damos conta que era apenas ilusão. Tem coisas que entram na moda, e que de tão feio você diz que nunca irá usar, mas sem querer, a gente usa e ainda se sente bem. Tem coisas que a gente começa acreditando que é “pra sempre”, mas em um piscar de olhos, o “sempre” se torna um simples ponto final. Tem coisa que surge e tem cara de fogo-de- palha, mas que vem pra ficar, que se transforma em chama que não apaga, que não morre, que não tem fim.

Desconheço as certezas, mesmo precisando delas. Mas hoje eu só quero sentir. Perceber que tudo em minha volta é metamorfose, até mesmo eu. E que até eu já não sou o mesmo, mas permaneço em mim. Intacto, profundo, intenso. Sei que estou “preso” a um roteiro instável, onde todas as escolhas me são possíveis. E por isso não sei explicar o cenário, o texto e o elenco. Mas tem gosto, temperatura e um “tum-tum-tum” diferente. 

Que caminho seguir, eu não sei, que decisão tomar, também não. Mas minha alma tem balança, e eu sei o que ta pesando. Um dia, ou eu saio de cima do muro ou ele desaba. Só me resta descobrir pra que lado se deve pular. As respostas vêem com o tempo, isso eu sei também. Enquanto isso, assim vou eu, oscilando, nesse vai e vem de sensações. Alcançando sonhos, tatuando alegrias no coração, que é pra nunca mais esquecer que felicidade de verdade não é uma possibilidade: é uma certeza.

domingo, março 04, 2012

Casa Fechada

É muito ruim querer voar com alguém mas sentir o coração pesando no peito, secando e se entregando a um estado de aridez extrema. Eu sinto medo. Eu tremo por dentro sempre que vejo cenas de romance nos filmes e penso que eu jamais terei isso pra mim, não pela falta de possibilidades, mas é que eu não sei se eu consigo amar como antes, meu coração trincou e eu não consigo arrumar, é feito espelho na parede que se racha tornando a imagem refletida confusa e surreal, eu não me reconheço mais.

Vejo muitas pessoas passando nas ruas, algumas me olham, mas eu não consigo ter interesse verdadeiro por ninguém, algumas eu uso pra satisfazer necessidades de toque, de beijo, de abraço... Mas o abraço nunca alcança o que eu tenho dentro do peito, um coração que antes era róseo e me alegrava, a vida era muito mais colorida. As vezes acho que busco em outras pessoas o que encontrei em apenas uma. No entanto não posso viver do passado, certo? Tenho de seguir em frente, não é mesmo? Meu coração hoje... hoje... hoje é folha seca que cai no outono, frágil que se quebra ao menor toque, o bom nisso é que ninguém consegue realmente tocar né? Eu só queria a primavera de novo, as cores, os perfumes... E o coração cor-de-rosa batendo no peito.

Sinto-me em pleno inverno numa casa nas montanhas afastadas da cidade, com cortinas semi-abertas e a chuva batendo na vidraça lá fora, vejo café já frio na mesa de centro... E aonde eu me encontro nessa cena? Na cama, no quarto fechado cheirando a mofo, músicas lentas e tristes tocam sem parar no rádio, alguns livros da Clarice se encontram abertos pelo chão, meu estado é deplorável. Se eu fizer uma cópia da chave de casa, você vai me buscar?