sexta-feira, setembro 11, 2020

Somewhere

- Hã!? Sobre o futuro? Olha... não sei muita sobre esse tal futuro. Eu nem sei onde vou está amanhã, que dirá há alguns anos a frente. O tempo... Ah o tempo... costuma ser implacável, sabe. Os minutos passam, viram horas, que viram dias e a gente fica tão absorto em nossas vidas, em nossos problemas, em nossas paranoias que nem percebemos que o ontem não passa de memórias distantes.

O homem de meia idade, ajeita os óculos no rosto, se levanta e caminha lentamente até a janela. As gotas de chuva na janela o acalmavam. Olha demoradamente para a rua deserta se deleitando com o som da chuva. Suspira pesadamente e volta a se sentar na poltrona.

- Eu sempre achei que a essa altura minha vida estaria... diferente. Eu achei que estaria em outro lugar, envolvido em outra situação. Como a vida muda, não é mesmo? Sabe... se o meu eu do passado visse como estou hoje, me chamaria de insano. Mas... Insano é como o meu eu de hoje se refere a ele no passado. Engraçado, ? Tudo muda! É claro há coisas boas e ruins, mas o que seria do mundo se as coisas permanecessem exatamente iguais? Haveria alguma evolução? Algum aprendizado? Acho pouco provável...

Discretas gotas de lágrimas saíam de seus olhos. Ele novamente suspirou envolvido em lembranças e continuou, após uma leve risada de canto de boca:

- ... Não não... Não ache que me arrependa. Eu não! Mudaria umas coisas aqui e ali, é claro, afinal sou ser humano como todo mundo. Mas arrependimento não. Aprendi muito com meus erros, me alegrei muito com meus acertos, fiz amigos que levo para vida toda e perdi outros que achei que sempre estariam aqui. Amei e fui amado... por cada um de vocês...

Ele novamente se levantou, olhou profundamente todos ali sentados. Alguns conversavam, outros com olhos marejados fungavam.

- Se me pudessem ouvir... Eu... Eu queria que soubessem, que ouvissem apenas "Muito obrigado!". 

Então ele virou e viu um outro homem de meia idade com os olhos vermelhos amparando e sendo amparado por um senhora. Sua mãe e o grande amor de sua vida. Um sorriso discreto apareceu no rosto dele. Caminhou até os dois que estavam sentados, abaixou-se e sorrindo disse:

- Obrigado vocês dois! Obrigado! Se cheguei até aqui foi por vocês. Obrigado mãe por ser maravilhosa, quase uma mulher maravilha! Obrigado meu amor, obrigado por nunca ter desistido, mesmo quando tudo parecia desabar. Vocês foram minha âncora quando eu queria estar a deriva.... Agora... Precisam ser fortes e me deixar navegar adiante... Meu amor... Você sempre disse que nossa vida é como um livro... Nossos capítulos se separam aqui... Escreva... escreva novos finais felizes... por mim... Eu te amo!

Deu um leve beijo na bochecha dos dois que sentiram uma leve brisa passar por ali. O homem então se levantou, olhou para outro homem vestido de branco que o aguardava, que estendeu a mão e caminharam juntos para o infinito.

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